quarta-feira, 29 de junho de 2011

Bálsamo e açoite

Trago no peito, na boca e na pele, mas quando te expurgo nas letras é que vejo a real dimensão que tens em mim.


Escrita que liberta, que sangra, que cura, que lembra, que sara, que dói.
Das armas e socorros que dispomos por nós mesmos, a escrita é de todas, a mais paradoxal.




"Diz que fui por aí - Fernanda Takai"

Camila Lourenço

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Instável


Digo fica sussurrando tchau.
Vou pro norte olhando compulsivamente para o sul.
Aperto o play e continuo pausada.
Piso em ovos sem necessitar.
Guardo beijos por guardar, pra não violar o contrato que meu coração não quebrou.
Dou risada pra fora, clamando por dentro.
Ando com os pés cravados no chão.
Desempeno asas.
Pisco para não ver e não durmo pra não perder de vista.
Odeio sem odiar.
Sinto a ausência pulsando no meu estômago.
Tiro férias da vida e continuo nela me arrastando, com um sorriso irônico grudado na cara e a contradição e todos os sentimentos confusos encontram em mim seu lugar.
De mim já não sou, e estou num lugar onde sou forte demais pra ficar e fraca demais pra sair.
Sou um vulcão em erupção. Sou o gelo do ártico.
Dou tapa na tristeza e digo a ela bem gritado:"vaza, porque aqui não é seu lugar."
Confio na vida, nas voltas e espero com um sorriso maroto pendurado nos lábios as surpresas nem tão surpresas assim que a vida trata de nos encaminhar.

Camila Lourenço

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Um novo tempo

Abra os braços e se deixe livre. Na vida, fica o que é pra ficar.

Ele chegou e sentou do meu lado na cama. A principio, não me disse nada, só me olhou com aquele olhar todo cheio de amor. Eu retribui o olhar e suspirei, já fazendo bico. Ele pegou minha mão e me levou pra janela e mesmo sendo a mesma janela que dia após dia eu olhava, não foi o cenário de sempre que vi. Vi gente triste, com frio, criança magra e suja e senti um arrepio tomar meu corpo. Ele esperou eu contemplar aquela cena durante algum tempo e depois me pegou pela mão novamente e me levou pra porta de casa, lá eu vi um céu azul e cores quase irritantes de tão lindas e vivas. Ele não me disse nada, só olhou pra mim novamente, beijou minha testa e antes de sumir e voltar pra minha mente e coração, sussurrou no meu ouvido:"Eu estou cuidando de você". Bastou.
Dei o primeiro passo pra fora de casa e me lembrei da vida e de tanta gente que as vezes, só precisa de um sorriso pra florir. Deixei a água do "tudo passa" me lavar e levar o que precisava ser levado e aceitei e abracei o novo tempo que já estava aqui.


"Times Like These - Foo Fighters"

Camila Lourenço
P.S: Obrigada Juliana Alves e à Renata e Cibele, donas de blogs fofíssimos (vale a visita) que me ofereceram um lindo selinho. Este blog não tem o costume de repassar selos, mas agradeço de coração a consideração.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Precioso

Tá vendo esse sorriso aqui, menino bobo, meio anjo, meio demônio?
É porque você existe. Só porque você existe.



Camila Lourenço

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Como se enterra o que está vivo?

Esse canto é pela vida e pela morte. Afinal, o fim de uma é sempre o início da outra.

Quando eu me levantei depois de ter feito aquela prece, fiquei pensando em como faria aquilo, como enterraria algo vivo, como eu tinha prometido pra mim que enterraria.
É bem verdade que ele facilitava demais aquele velório, quando olhava pra mim com aquela cara e falava com a mesma voz mansa como se aquela morte sem a presença da morte não lhe afetasse em nada. Juro que as vezes eu sentia vontade de ir lá e o esbofetear, bater até chorar, não ele, eu, e fazer ficar mais fácil aquele desapego, mas eu não conseguia. Queria mandar ele a puta que o pariu, mas não conseguia... Ele, que sempre tinha tido cor de doce, cores, mesmo nos momentos mais críticos, tinha agora um gosto que eu não sabia definir, nem odiar. Não era de jiló, que odeio, nem de jurubeba, que não suporto. Era de não sei o quê, de fome sem vontade de comer. As vezes o gosto parecia com isopor, de nada, e mesmo descendo rasgando pela minha garganta, eu preferia e escolhia engolir. Uma parte do meu eu queria deixar tudo ali e partir, vazar, virar fumaça, abraçar o mundo e falar "vai se ferrar", mas, a outra, aquela que tomava conta dos 90% de mim, queria ir lá, deitar naquele colo mais uma vez, dizer um monte de coisas sem nexo e ainda assim, com total sentido e sorrir, rir aquele meu riso besta que sempre se abria quando a gente se permitia. Nesse momento eu o odiava. O odiava e odiava também a mim, por ter me permitido algo que eu teria que enterrar, mas, nada mais se podia fazer. Voltaríamos para as nossas gaiolas bonitas e de poses puritanas.
Desci vagarosamente a rua que me levaria para onde ele morava em mim. Passei dois dias cavando a tal vala, o tal túmulo. Quando chegou enfim a hora de jogar aquilo que eu nunca chamei de amor naquele chão sujo, eu o abracei forte e olhei pra ele ali, em mim, tão lindo, tão tudo errado e certo e sem coragem de fazer aquilo com ele, fiz comigo. Deitei naquele chão frio e joguei terra, era eu deitada, e eu enterrando. E num misto de ódio, revolta e todo o tipo de sentimento sincero que eu me permiti sentir me prometi que aquilo de meu enterrado morreria pra sempre, e dessa vez eu jamais andaria conscientemente onde meus pés - e coração - fossem conhecer o fim.
Entre mortos, feridos, emputecidos, enraivecidos, tristes, salvaram-se todos. E como dizem por aí, foda-se o resto. A vida ainda está aqui.
Mas uma coisa eu não posso negar: Aquele filho da mãe faz uma falta maior que eu jamais poderia imaginar e eu queria tanto, mas tanto que ele ficasse aqui, mesmo que doendo, que o que eu precisava neste momento, era mesmo, sepultar tudo aquilo de mim.



"Wish You Were Here - Pink Floyd "

Camila Lourenço

Onisciência


Quando eu não sei o que falar, olho para o céu em silêncio e minha fé, ainda que pequena, me faz ter a leve sensação de que de alguma forma, Ele pode me ouvir, mesmo sem uma palavra sequer eu pronunciar.


Camila Lourenço

sábado, 18 de junho de 2011

Ei, universo...chega mais

"Algumas formas de amor não são justas não, são exemplares mesmo."

Um livro chamado vida com a tristeza do tamanho da gota da lágrima do reencontro, recheado com uma sucessão de continuações felizes. Uma guerra de beijos e um afogamento de abraços. Uma tristeza virando sorriso, uma solidão transformando-se em amigos, uma proteção do acaso em forma de Deus, uma pitada de otimismo, uma dose sem tanto de amor e uma fé de irritar no "calma, no fim tudo dá certo".
Tá feito meu pedido. Embrulha ai, vou levar.

"Toda forma de amor - Lulu Santos"

Camila Lourenço

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O adorado bichinho estranho

"Espera, o sol já vem."
|Renato Russo|

A esperança é um bicho estranho, que sempre renasce das cinzas sem nem sequer ser Fênix e nos faz, de novo, acreditar, mesmo sem querer.
"Deus, que esse bicho nos morda pra sempre."


"Mais uma vez - Renato Russo"

Camila Lourenço
P.S: Pra Heloane, a geminiana mais sensata que já conheci, e que vira e mexe me lembra de trazer o sol sorrindo aqui.

O imperfeito


Quando eu o olhava, sentia o céu brilhar. Acontecia uma explosão de cores felizes em mim que começava no céu da boca e ia descendo pela corrente sanguínea, até tomar meu corpo todo. Era uma felicidade extrema, exorbitante, gritante. E depois, a mesma onda que havia me feito pisar nas nuvens, me fazia pisar na brasa, no fogo ardente, em espinho, e em sei lá o que, em toda e qualquer coisa que doesse.
Ele era perfeitamente imperfeito. Sem nada no lugar, tão desequilibrado quanto eu. Um apaixonado pela vida, meio romântico, meio cínico, meio feliz, meio mal humorado. E eu era a romântica meio sem assumir, a meio louca pendendo pro totalmente, a meio qualquer coisa e tudo ao mesmo tempo.
Ele era doentiamente escorregadio. Meu Deus, como eu odiava segurá-lo e logo depois ele ficar lá, dançando aquela dança meio macarena na minha frente, meio botando a língua pra fora, num desaforado: "Tô aqui fora de novo, lá,lá".
Mas, ele era também uma almofada fofa de pelúcia. Um sonho bom de noite chuvosa. Uma tarde bonita em alguma praia de Floripa, a euforia do FICA, a sensualidade dos meus sonhos inacabados, a temperatura quente dos meus desejos. Ele era um misto de tudo. E quando eu começava cair de amores, suspirando, lá vinha ele com sua mania de fazer meu coração bater no estômago, dando passos descompassados dos meus. E quando eu estava prestes a cansar, ele se virava, sorria, pegava no meu rosto, e era fatal, eu já não me lembraria de mais nada das suas rebeldias.
Ele era o sonho mais real que eu já havia tido. E o meu chão mais áspero também. Perfeito, porque era exatamente assim, imperfeito. Muito imperfeito.
E acho que foi isso que me levou tatuá-lo no braço, no peito, na virilha, na boca, e no coração.
Ele era a encarnação das minhas mais doces e malucas ilusões. Era eu num corpo estranho.
Graças a ele hoje eu sei que a felicidade não está nas coisas mais concisas, nem nas mais perfeitas, muito menos nas realidades mais palpáveis. Hoje eu sei que a felicidade mora aqui dentro, no peito, e as vezes é exatamente a imperfeição de algum momento ou pessoa que a faz acordar.

Camila Lourenço

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Fica, vai ter abraço

Hoje eu acordei me achando, sabe?Até meu riso tava rindo pra mim no espelho. Ah, não sei porque, acho que é só porque esse dia foi o que Ele escolheu pra eu nascer."

Já tive dias de gata borralheira, ou bela adormecida (qualquer uma dessas princesas meio alegres, meio tristes, que dependem sempre do beijo de algum príncipe pra ficar feliz) e já fui também meio Rita Lee, desbocada, desleixada, ousada, porra louca.
Já fui embora e voltei. Já fui sorriso que vira lágrima e lágrima que se debulha em sorriso.
Já fui criança sendo adulta(sou um pouco todo dia) e já fui adulta chata e melancólica.
Já amei até doer. Já quis ficar pendurada na boca dele até a boca arder. Já achei que ia amar pra sempre e descobri que o pra sempre sempre acaba, mas que eu iria mesmo, querer bem até o fim. Já quis ter filho japonês e também de olho claro, e depois vi que o que quero mesmo, um dia, é ter filhos. Já quis ser livre pra abraçar o mundo, já quis ficar presa por vontade.
Já quis ir embora do mundo, já quis nunca morrer, mas principalmente, já quis nunca morrer dentro de quem eu amo (isso eu quero todos os dias). Já ouvi O Teatro Mágico uma centenas de vezes chorando, e já dancei ouvindo o mesmo O Teatro Mágico com minha cachorra antes de ir trabalhar. Já curei minha tristeza curando tristeza dos outros e minha lista de coisas a fazer antes de morrer se alterna entre coisas puritanas, como ter uma ONG, e outras coisas mais que... bem, que não dá pra dizer... rs
Já cheguei no trabalho rindo irritantemente numa baita segunda-feira e já deixei também a contragosto, que todos me vissem chorar.
Já fui ingênua, maliciosa, sonhadora, pé no chão, e agora sou tudo isso, só que de uma vez (acho sinceramente que esse é meu maior castigo).
Já quis casar de branco(e continuo querendo). Já me achei, me perdi, me achei, perdi, achei e hoje eu já nem sei se essa que eu sou é a que sempre fui ou alguma outra eu estranha que encontrei em alguma das vezes que me perdi.
Já fui feliz até ter medo de acordar, e já fui triste até quase surtar.
Eu acordo sorrindo, mas tenho lances de tristeza todo dia. Eu converso com o computador e dialogo comigo quando sento em bancos de praça pra pensar. Ah, e eu sento na praça pra olhar os passarinhos e fazer o meu equilíbrio voltar. Eu troco os meus planos pra me encaixar nos de"'alguém"(não devia, mas eu troco), e ironicamente falando sério, mudaria até pro Japão, Austrália, ou seja lá onde for, só pra viver um grande amor.
Já fui menina, mulher, meio santa, meio faço-o-que-me-der-na-telha e a vida foi o liquidificador que transformou tudo isso no que sou.
Eu faria tudo de novo. Eu ainda tenho muito mais a fazer. Aprendi que não se deixa as coisas pela metade, sendo assim, vou até a história ficar inteira, e mesmo quando saio toda rebentada nunca consegui me arrepender. Já foi mesmo, pra quê se arrepender?
Hoje eu vou dar abraço e vou receber.
Hoje Ele falou comigo e ordenou: "Hoje você está oficialmente obrigada a não sofrer" e num surto de obediência, eu assenti.
Hoje é meu dia, e prazer: esse é meu estabanado jeito de ser.


"Reticências (Celebrar muito mais) - o Teatro Mágico "


Camila Lourenço

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Ouvindo de dentro

"Ocorre que meu DNA é otimista e nunca chora por muito tempo."
|Márcia Toito|


Eu vou escarnecer da sua cara, te mostrando sua alegria. Vou rir da sua tristeza, te lembrando do seu sorriso. Eu vou bater no seu rosto, quando você surtar e vou te obrigar voltar. Vou te entupir de riso. Vou religar seu "foda-se". Vou te obrigar andar, vou te mostrar o que no mundo há. Vou apontar o dedo na sua cara e te lembrar do que você realmente precisa. Vou fazer você gritar e botar pra fora o que anda te fazendo chorar. Eu não vou passar a mão na sua cabeça, eu vou fazer você de novo andar, e então você vai me agradecer, porque vai perceber que a força da qual eu falo está dentro do seu ser, porque eu, na realidade, sou você.

Camila Lourenço

O mundo que eu sonho

"O mundo está ao contrário e ninguém percebeu."
|Nando Reis|

Sim, eu sonho com um mundo com menos fome, mais paz, mais igualdade. Mas, eu sonho também com um mundo com amor mais declarado. Amor de gente. De gente pra gente. Porque amor faz bem até quando faz mal. O único que deixa feliz até quando é triste, só porque existe.
Sonho com um mundo onde possamos rir solto, como somos. Sentados numa grande e rica poltrona ou num encardido chão. Um mundo com menos inveja e mais aceitação. Com as diferenças respeitadas como chuvas coloridas.
Um mundo com um pra sempre hoje. Pra sempre agora. Pra sempre responsável, mas feliz e cheio de esperança como os olhos de criança.
Não desejo menos impulso, talvez devesse, mas é que as vezes é exatamente alguma coisa feita por impulso que mostra quem realmente somos, e leva alguém a nos amar. As vezes é exatamente quando erramos que conseguimos acertar, então, por isso não excluiria o erro, mas diminuiria-o a passo pequeno, miúdo, discreto e leve como de bailarina.
O mundo que eu sonho o abraço é prato do dia todo dia em casa, e tem pais cantando de esperança pra criança no colo.
O mundo que sonho tem mais coragem, mais humanidade, menos falsidade. Deficiente físico é visto não como alguém do canto da sociedade, mas como um ser exclusivo e único, como eu e você. O mundo que eu sonho, conteúdo pesa mais que dinheiro.
O mundo que eu sonho a hipocrisia é o passarinho feio que canta do lado de fora da janela, olhando a baderna feliz mas sem coragem de mudar o canto pra entrar.
O mundo que eu sonho, homossexual é olhado com respeito, mesmo pelos que não concordam, pois é preciso mesmo ser muito macho pra escancarar os próprios desejos e aguentar as consequências disso.
O mundo que eu sonho a gente é feliz só porque é feliz. Só porque temos o direito de sermos nós mesmos, e só.


"Como nossos pais - Elis Regina"
Camila Lourenço

terça-feira, 14 de junho de 2011

Vamos mentir hoje?

"Todo sopro que apaga uma chama reacende o que for pra ficar"
|O Teatro Mágico|

Não sorria pra dentro hoje, sorria pra fora mesmo. E daí se a vida tá ruim? E daí se está tudo ferrado? Minta. Engane a tristeza.
Essa lágrima dolorida que vez em quando insiste em cair só faz bem quando é pra desanuviar o peito, se é companhia diária, faz a vida ficar feia, meio amarga. Porque tristeza é uma coisa feia, sabe? Cinza. Como dia sem sol, sem chuva, sem céu azul, sem nada.
Então, hoje, vamos sorrir pra fora. Colocar aquele riso debochado e escancarado na cara. E dane-se se tiver tudo doído por dentro. Hoje nós vamos mentir cem vezes "eu sou feliz" até virar verdade.
Afinal, quem é que manda por aqui?
Mintamos. Finjamos. Quem sabe assim não criamos vergonha na cara e notamos, mesmo que obrigados, o céu lindo que faz todos os dias e que a gente nem repara.
Hoje, minta que é feliz, e repita até acreditar.

Camila Lourenço

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Uma vez mais


Qualquer dia pode ser o último. O meu, o seu, o de qualquer um. Mas, qualquer dia nosso, pode ser mesmo, o último.
Eu fingiria que não me importo se isso fosse garantia de ver aquele seu olhar inseguro que me faz acreditar que talvez, tudo esteja bem. Faria de conta que te esqueci, só pra alimentar o meu ego que fica feliz quando você sente medo de eu realmente ter te esquecido. Mas, não quero nada disso.
Eu só quero sentir seu corpo mais uma vez no meu, de mãos dadas, de olho grudado, de boca colada e espantar as minhas lembranças, que insistem em se intitularem como derradeiras, pra longe.
Não peço pro tempo voltar, poque ele não volta, e se ele voltasse também, eu pediria não pra nunca saber de você (talvez pedisse também), mas pra nunca saber como eu sou através de você.
Agora, que esse papo já ficou sério e triste demais, eu só quero que você me dê aquele sorriso e me faça esquecer de razão, de emoção, de mim, de você e do mundo. Eu só quero ser feliz no seus braços mais uma vez, hoje. Amanhã eu vejo o que eu faço comigo. Hoje eu só quero o hoje.

Camila Lourenço

domingo, 12 de junho de 2011

Das coisas que não entendo


Não entendo porque a gente ouve algumas músicas se essas músicas vão nos fazer chorar. Não entendo porque existem tantas regras bobas no mundo, que apesar de serem bobas, se você não as segue, está fadado ao fracasso, ou a um rótulo mal dado. Como puxar saco, ou engolir o que sente e mostrar um sorriso, ou, fingir que está tudo bem quando tudo na realidade, está péssimo.
Não entendo também porque reclamamos tanto. Reclamamos quando a vida está cor de papelão, sem graça, sem vida, sem coração batendo forte, e reclamamos também quando ele enfim, decidi fazer a coisa aqui dentro desandar. Não entendo.
Não entendo também porque a gente mesmo sabendo que não deve pegar algum caminho, acaba pegando. E não entendo mais ainda porque a gente sente vontade de voltar no tempo pra nunca ter entrado, mesmo aquele percurso tendo nos trago tantas alegrias. Ou melhor, até entendo, "não se sente falta do que nunca teve".
Não entendo também porque o estômago fecha quando ficamos tristes, nem porque o coração bate no chão desse mesmo estômago quando "aquela" pessoa passa, nem também porque dizem que só se ama uma vez na vida (ta aí uma das mentiras mais absurdas que nos contam). Não entendo como a gente continua desejando aquele bem danado para quem por tantas vezes nos fez chorar, ou melhor, isso entendo, acho que é bem nesse momento que começamos entender o que é amar.
Queria também não entender porque temos tanta dificuldade em deixar algumas coisas voarem, os amores, os nós, se soltarem. Isso eu não queria entender, mas eu entendo. É que deixar voar, aceitar o "vai passar" é abraçar a possibilidade de não mais sentir, não mais amar. De ver como "mais um" quem víamos como único, "o cara", "o tal". É aceitar que os momentos bons, gostosos, inesquecíveis, serão só momentos, de uma página meio amarelada pelo passado. É aceitar trocar de música, de estação, de rádio, quem sabe até de cidade, pra não mais lembrar, não mais chorar, não mais amar, não mais nada. Disso eu não queria entender. Não queria entender porque alguns amores - ou chamem como quiser - ficam. Ficam porque a gente deixa. Porque a idéia de superar, de não importar, de deixar o céu colorido virar passado cor pastel é ainda mais dolorido que senti-lo pulsar em nós, mesmo machucando. E é por isso que a gente vai engolindo muita coisa, abdicando de outras, e ai, nos olham e falam:"Você está perdendo seu tempo... a vida tá passando", e sorrimos. Parece que alguns "tempos" a gente tem mesmo que perder, pra ganhar. De si. Da vida.

Camila Lourenço

sábado, 11 de junho de 2011

Do amor que não te conto

A verdade é que amando você eu amo a mim.
É que nem o meu reflexo no espelho é tão eu assim.

Eu não vou gritar eu te amo, nem vou escrever numa placa enorme em letras garrafais pra você.
Eu vou te amar baixinho, sem falar.
Eu vou te amar olhando, sem corar.
Eu vou te amar, amando, por amar.
Não vou te falar.Não vou quebrar a magia do sentimento com as notas musicais da fala.
Eu vou te cantar em versos lindos o meu amor. Vou te fazer uma canção de ninar em pensamento. Vou te amar em sorrisos, em ouvidos, em abraços. Eu não vou te falar, mas eu vou te amar. Não vou te amar, eu já te amo.
Eu vou gritar pra dentro. De mim. De você. Vou te abraçar sem te encostar, te envolvendo, vou te venerar sem te olhar, te guardando, vou sonhar sem dormir. Mas não vou te contar. Não vou contar porque não preciso. O nosso amor já está tatuado em mim. E já nasceu pra ficar assim: Marcado, gravado, calado, gritante, amado, amando.

"Stand By Me | Playing For Change | Song Around the World"

Feliz dia dos namorados pra todos os tipos de amores. Os declarados, e os guardados.

Camila Lourenço
P.S: Sim, o dia dos namorados é amanhã. Mas, eu sou apressadinha e quis desejar feliz dia hoje, posso?Rs. Beijo e aproveitem!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Sorte(iro)


Acordei desesperada, havia esquecido de comprar o presente do meu namorado. De repente lembrei: eu não tinha namorado. Meu alívio durou poucos minutos, se eu não tinha namorado, eu deveria ter um peguete e não tinha compro o presente do tal. Olhei pro tempo e pensei:"Ué, eu também não tenho peguete." Alívio. Desespero. Desespero desesperador. Muito desesperador. Constatei que o dia do terror existiria e estava há poucas horas de mim. Lembrei daquele que faz meu tumtumtum parecer escola de samba e senti raiva, as vezes ele era, bem...as vezes ele era bem "ele" e nesse momento, lembrar do sorriso dele fez meu estômago dar ainda mais voltas.
Bem, o que eu poderia fazer? Eu teria que viver o tal dia do amor. Comecei então me preparar. Coloquei P!nk no último volume, calcei aquela minha bota linda acompanhada daquele vestido que fazia eu mesma querer me pegar. Fui ver o sol.
Sai, tomei um chocolate quente, meio capuccino e ouvi os burburinhos sobre que presente dar, e blá, blá, blá. Vi um ou outro rosto triste, desviando os olhos dos casais apaixonados. Pensei: "eis ali alguém como eu".
Abasteci minha geladeira com todas as guloseimas possíveis, incluindo "água que passarinho não bebe". Marquei na minha agenda:"Sorrir."
Não, não pensei no resto. Eu tinha ainda uma agenda inteira de amigas para ligar. Procurando me entreter, me lembrei que eu tinha muito mais motivos para comemorar o amor que eu imaginava. Ele batia dentro de mim, vazava pelos meus poros. Sorri. Amor é pra vida toda, e isso nem sempre incluiria ter alguém por perto.
No final da minha viagem de pensamentos eu estava até feliz. Eu estava tendo bem mais que sempre quis.
Aquele pensamento:"quem tem sorte é sorteiro" ainda me parecia meio mentiroso e despeitado. Mas, quer saber? Me cabia muito bem.


"So What - P!nk"

Camila Lourenço

quinta-feira, 9 de junho de 2011

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Das coisas que sei fazer

"Tenho um sorriso bobo e um par de asas tortas.
É que as vezes (quase sempre) não vôo. eu me jogo."
|Fernanda Gregório|

Eu sei errar. Muito. Até quando acerto.
Sei lá. Tenho um sangue meio estabanado correndo nas veias, ou tenho alguma célula reinante no corpo desconfiada demais, e por ser desconfiada e achar que todo mundo vê seu erro, todo mundo realmente acaba vendo.
Eu sei falar eu te amo pra dentro e o meu olhar sabe gritar pra fora.
Ah, e eu também sei ser piegas. Óh céus, como eu sei ser piegas. De chorar em filme-nada-a-ver, de dar saltinhos de alegria diante de uma atitude bonita (que coisa brega¬¬), de ficar com aquela, sim, "aquela" cara de boba alegre, assim, nada discreta.
Eu sei sorrir com os olhos, pra tristeza não me ouvir. Sei dos jogos que não jogo e que tentando jogar, sempre perco.
Eu sei uma série de coisas que se resumem a um montante de não sei.
E de todas as coisas que eu queria saber, a única que eu realmente não aprendi foi não ser assim, tão coração quente e tão estabanadamente, humana.


"Primeiros erros - Capital Inicial"

Camila Lourenço

terça-feira, 7 de junho de 2011

Fato

Não é a hipocrisia do mundo que nos machuca. É a nossa.




Camila Lourenço

Dependência

"Canibais de nós mesmos
Antes que a terra nos coma
Cem gramas, sem dramas
Por que quê a gente é assim?"
|Cazuza|

Eu poderia ficar um milhão de horas beijando-o, que ainda assim continuaria com aquela sede. Era uma fissura que não passava. Uma gana. Uma vontade de pegá-lo pelo colarinho e beijar até fazer doer, até os lábios incharem e depois, desmanchar em soluços num abraço. Eu dormia, sonhava e acordava com ele impregnado no meu corpo, na minha boca, no meu pensamento. Um inferno. Um céu.
Ele tirava a minha paz, o meu chão, e o meu juízo e o que mais me escandalizava, era que, ó meu Deus, como eu achava tudo aquilo bom.
Ele não era nem de longe o cara mais perfeito do mundo. Logo, não havia muita explicação pra tanto querer. Mas, eu também não era o melhor modelo de perfeição que já vi, e acho que era bem aí que a coisa pegava. Devia estar aí a explicação. como se eu reconhecesse nele algo meu, meu de meu, de corpo meu em corpo estranho.
Eu estava perdida. Disso eu já não tinha, nem tenho, mais dúvidas. E o pior era que eu não queria me achar. Não conseguia. Eu queria calar, não falar, deixar confuso, plantar dúvidas, camuflar, mas eu era uma boba sem noção que até calada ficava com aquele olhar que queimava, queimava. Ardia aqui dentro.
Eu queria devorá-lo. Essa é a verdade. Ou queria ser engolida, de uma vez. Qualquer coisa que fosse rápida e indolor. Eu queria overdose dele na minha veia. Morrer de tanto sentir. Morrer pelo excesso e não pela abstinência. E aí estava meu fim, meu castigo, o motivo da minha boca seca, das minhas noites insones. Não sentindo ele, eu não sentia a mim e esse era meu maior inferno.
Me transfundi pra um copo e me bebi e ainda continuei com aquela secura e vi: eu precisava mesmo era me benzer, ou algo assim.
Pensei em chegar num padre pra pedir, ou num pastor, talvez. Mudei de idéia, pedi mesmo foi pra "Ele" e com a maior cara de pau do mundo, ajoelhada, falei:"Deus, por favor, me cura de mim!"

"Por que a gente é assim? - Cássia Heller"

Camila Lourenço

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Um bálsamo, quentinho, por favor.

"Queria que algum sopro fizesse parar de doer
e levasse junto com a dor essa falta. Essa falta enorme e amarga que ele faz."

Eu queria espantar aquela dor pra longe. Queria tudo curado, mas ainda via jorrar sangue das feridas. Meu estômago fazia festa, no auge de sua estúpida e independente gastrite. Minhas pernas quase voavam, na ignorante mania de agora, não andar mais rápido. Queria não lembrar, mas a saudade, danada, deitava e acordava em meu encalço. Meu coração, já não batia, tremia, e desse, coitado, eu sequer ousava tirar sarro.
Eu queria que nada doesse. Ou até que doesse, se houvesse aqueles braços para me acalmar. Não havia. E eu reaprendia, que as vezes é preciso doer-se todo para se curar.



"Little house - Amanda Seyfried"

Camila Lourenço

domingo, 5 de junho de 2011

Eu ainda o ouço


Só quem já sentiu na pele a ausência do que não consegue conviver sem, entende algumas escolhas que fazemos na vida.
Felicidade não está naquilo que encanta nossos ouvidos, está naquilo que estranhamente faz o sorriso nascer bem aqui, nesse músculo nem sempre "são", cuidadosamente acomodado entre os pulmões, batendo no cérebro e injustamente as vezes chamado de inimigo da razão.

Camila Lourenço

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Sobrevivência

"A moça – que não era Capitu, mas também têm olhos de ressaca –
levanta e segue em frente.
Não por ser forte, e sim pelo contrário…
Por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração,
na sua alma, na sua essência.
E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda.
Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.”
|Caio Fernando Abreu|


Não se pode fugir da vida. Ter fé não é questão de escolha. É questão de sobrevivência.


Camila Lourenço

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Rumo

"Não se pode dar uma prova de existência do que é mais verdadeiro, o jeito é acreditar. Acreditar chorando."
|Clarice Lispector|

Já fiquei contando os dias para o ano passar rápido, na ansiedade da chegada do nada, só para que o amanhã que não me doeria, chegasse logo.
Já dormi sete horas da noite pra não ter que ficar acordada e ja fui dormir quase sete da manhã também com preguiça de dormir e ter outro dia dolorido pra enfrentar.
Já fiz coisas sem nexo, como limpar gavetas antigas, ler bula de remédio ou "modo de usar" de desinfetante. Qualquer coisa que me entretesse de mim.
Já quis tanto que chegasse um tempo que o "vai passar" não fosse preciso, que me perdi nas frestas desse querer.
Já acreditei em quem não devia acreditar, já tentei ser metade e fui mais inteira que eu completa.
Já quis viver outra vida, e vivi, mudando de gosto, rumo, roupas e cabelo.
Já quis fazer não doer, e quanto mais eu tentava, mais dolorido tudo ficava.
Já me coloquei num cantinho, quando tinha uma cama inteira na vida me esperando, só porque o cantinho que mal me cabia tinha o calor de quem eu amava.
Já quis fazer o mundo me ver de dentro pra fora, já quis que o mesmo mundo esquecesse da minha existência.
Já julguei e fui julgada.
Já escrevi sobre felicidade com as lágrimas molhando o teclado, só pra não passar o sentimento ruim adiante.
Já fui incompreendida, e também muitas vezes, não compreendi.
Aprendi a base de tapas, muitas vezes desnecessários, que sim, a vida é dura sim e que também seria como eu determinasse que seria.
Já fiz planos espetaculares na mente, e os vi desmoronar através de um simples sorriso.
De todas as coisas, aprendi que não deixei de amar todas as vezes que deixei de falar. e descobri também, que nesse mundo louco, nunca se perder é privilégio de poucos.
Já tive um rumo certo. Agora, só quero o rumo que me leve de volta ao que mais preciso:(D)eu(s).

Camila Lourenço

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Calma pra dentro

"Acho que fiz tudo do jeito melhor, meio torto, talvez,
mas tentei da maneira mais bonita que sei."
|Caio F. Abreu|

Resignação é saber que mesmo as coisas que não deram certo tiveram o melhor do nosso esforço para acontecerem, para durarem.

Camila Lourenço

Amor próprio

Amor próprio é quando a gente aprende trocar a palavra "disponível" pela frase "fui cuidar de mim".

Pra que ligarem pra nós, se a gente sempre liga pra eles?
Pra que falar, se sempre falamos por eles?
Pra que se preocuparem conosco, se vestimos essa palavra com todas as letras possíveis?
Mania de luzinha verde, exatamente a mania que mulher, quando entra em alguma relação, tem. Luzinha verde do "disponível". Deixamos de ir pra academia se a hora da academia coincidir com o único horário que o veremos. Chegamos atrasadas em compromissos pra ficar mais alguns minutos dando aquele beijo de despedida que sempre quer ser beijo de início. Até sorrir diferente a gente aprende. Aprende viver o outro. E isso acontece involuntariamente com todas. Posso afirmar com quase toda certeza que nenhuma mulher pode dizer que nunca se encaixou nas características descritas acima.
Já leu o prefácio de algum livro? É todo encantador e promissor. Se o prefácio for bom, o livro poder ter até mil e quinhentas páginas ou mais, que animaremos ler. O problema é quando o livro é só um prefácio. E ai, quanto mais enrolado e bonito o prefácio parece, mais de todas aquelas coisas que em resumo, somos nós mesmas, vamos abrindo mão. Queremos tanto o primeiro capítulo, o segundo, o terceiro, etc que vamos indo, ficando, engolindo. Só que uma hora, na maioria das vezes uma coisa mínima, nos acorda. E ai, a gente até lembra das tais voltas que o mundo dá, e a única coisa que conseguimos pensar é: "Foda-se!"
E ai a gente descobre que amor próprio é coisa rara e que de vez em quando a gente não tem. Mas, que ainda bem, Deus não nos deixa morrer sem.


Camila Lourenço