terça-feira, 31 de julho de 2012

Do que nos ajuda ficar de pé

Todo mundo tem os pilares nos quais se apoia quando a coisa aperta, né? Eu tenho os meus e vou compartilhar dois.
Quando a coisa tá lascada e eu tomo consciência da nossa solitude no mundo e da real presença da ausência em mim, eu sento num parque, ouço Fix You e finjo que é Deus cantando pra mim.
Meu segundo pilar é esse texto do Jobs. Ele sempre me encantou, desde a primeira vez que ouvi e sempre, sempre que releio vejo e sinto coisas diferentes.
Então, caso algum de vocês precise de um pilar também, deixo aqui esses dodóis do meu coração pra vocês.

"Você tem que encontrar o que você ama"

Estou honrado de estar aqui, na formatura de uma das melhores universidades do mundo. Eu nunca me formei na universidade. Que a verdade seja dita, isso é o mais perto que eu já cheguei de uma cerimônia de formatura. Hoje, eu gostaria de contar a vocês três histórias da minha vida. E é isso. Nada demais. Apenas três histórias.

A primeira história é sobre ligar os pontos.

Eu abandonei o Reed College depois de seis meses, mas fiquei enrolando por mais 18 meses antes de realmente abandonar a escola. E por que eu a abandonei? Tudo começou antes de eu nascer. Minha mãe biológica era uma jovem universitária solteira que decidiu me dar para a adoção. Ela queria muito que eu fosse adotado por pessoas com curso superior. Tudo estava armado para que eu fosse adotado no nascimento por um advogado e sua esposa. Mas, quando eu apareci, eles decidiram que queriam mesmo uma menina.

Então meus pais, que estavam em uma lista de espera, receberam uma ligação no meio da noite com uma pergunta: “Apareceu um garoto. Vocês o querem?” Eles disseram: “É claro.”

Minha mãe biológica descobriu mais tarde que a minha mãe nunca tinha se formado na faculdade e que o meu pai nunca tinha completado o ensino médio. Ela se recusou a assinar os papéis da adoção. Ela só aceitou meses mais tarde quando os meus pais prometeram que algum dia eu iria para a faculdade. E, 17 anos mais tarde, eu fui para a faculdade. Mas, inocentemente escolhi uma faculdade que era quase tão cara quanto Stanford. E todas as economias dos meus pais, que eram da classe trabalhadora, estavam sendo usados para pagar as mensalidades. Depois de seis meses, eu não podia ver valor naquilo.

Eu não tinha idéia do que queria fazer na minha vida e menos idéia ainda de como a universidade poderia me ajudar naquela escolha. E lá estava eu, gastando todo o dinheiro que meus pais tinham juntado durante toda a vida. E então decidi largar e acreditar que tudo ficaria ok.

Foi muito assustador naquela época, mas olhando para trás foi uma das melhores decisões que já fiz. No minuto em que larguei, eu pude parar de assistir às matérias obrigatórias que não me interessavam e comecei a frequentar aquelas que pareciam interessantes. Não foi tudo assim romântico. Eu não tinha um quarto no dormitório e por isso eu dormia no chão do quarto de amigos. Eu recolhia garrafas de Coca-Cola para ganhar 5 centavos, com os quais eu comprava comida. Eu andava 11 quilômetros pela cidade todo domingo à noite para ter uma boa refeição no templo hare-krishna. Eu amava aquilo.

Muito do que descobri naquela época, guiado pela minha curiosidade e intuição, mostrou-se mais tarde ser de uma importância sem preço. Vou dar um exemplo: o Reed College oferecia naquela época a melhor formação de caligrafia do país. Em todo o campus, cada poster e cada etiqueta de gaveta eram escritas com uma bela letra de mão. Como eu tinha largado o curso e não precisava frequentar as aulas normais, decidi assistir as aulas de caligrafia. Aprendi sobre fontes com serifa e sem serifa, sobre variar a quantidade de espaço entre diferentes combinações de letras, sobre o que torna uma tipografia boa. Aquilo era bonito, histórico e artisticamente sutil de uma maneira que a ciência não pode entender. E eu achei aquilo tudo fascinante.

Nada daquilo tinha qualquer aplicação prática para a minha vida. Mas 10 anos mais tarde, quando estávamos criando o primeiro computador Macintosh, tudo voltou. E nós colocamos tudo aquilo no Mac. Foi o primeiro computador com tipografia bonita. Se eu nunca tivesse deixado aquele curso na faculdade, o Mac nunca teria tido as fontes múltiplas ou proporcionalmente espaçadas. E considerando que o Windows simplesmente copiou o Mac, é bem provável que nenhum computador as tivesse.

Se eu nunca tivesse largado o curso, nunca teria frequentado essas aulas de caligrafia e os computadores poderiam não ter a maravilhosa caligrafia que eles têm. É claro que era impossível conectar esses fatos olhando para frente quando eu estava na faculdade. Mas aquilo ficou muito, muito claro olhando para trás 10 anos depois.

De novo, você não consegue conectar os fatos olhando para frente. Você só os conecta quando olha para trás. Então tem que acreditar que, de alguma forma, eles vão se conectar no futuro. Você tem que acreditar em alguma coisa – sua garra, destino, vida, karma ou o que quer que seja. Essa maneira de encarar a vida nunca me decepcionou e tem feito toda a diferença para mim.

Minha segunda história é sobre amor e perda.

Eu tive sorte porque descobri bem cedo o que queria fazer na minha vida. Woz e eu começamos a Apple na garagem dos meus pais quando eu tinha 20 anos. Trabalhamos duro e, em 10 anos, a Apple se transformou em uma empresa de 2 bilhões de dólares e mais de 4 mil empregados. Um ano antes, tínhamos acabado de lançar nossa maior criação — o Macintosh — e eu tinha 30 anos.

E aí fui demitido. Como é possível ser demitido da empresa que você criou? Bem, quando a Apple cresceu, contratamos alguém para dirigir a companhia. No primeiro ano, tudo deu certo, mas com o tempo nossas visões de futuro começaram a divergir. Quando isso aconteceu, o conselho de diretores ficou do lado dele. O que tinha sido o foco de toda a minha vida adulta tinha ido embora e isso foi devastador. Fiquei sem saber o que fazer por alguns meses.

Senti que tinha decepcionado a geração anterior de empreendedores. Que tinha deixado cair o bastão no momento em que ele estava sendo passado para mim. Eu encontrei David Peckard e Bob Noyce e tentei me desculpar por ter estragado tudo daquela maneira. Foi um fracasso público e eu até mesmo pensei em deixar o Vale [do Silício].

Mas, lentamente, eu comecei a me dar conta de que eu ainda amava o que fazia. Foi quando decidi começar de novo. Não enxerguei isso na época, mas ser demitido da Apple foi a melhor coisa que podia ter acontecido para mim. O peso de ser bem sucedido foi substituído pela leveza de ser de novo um iniciante, com menos certezas sobre tudo. Isso me deu liberdade para começar um dos períodos mais criativos da minha vida. Durante os cinco anos seguintes, criei uma companhia chamada NeXT, outra companhia chamada Pixar e me apaixonei por uma mulher maravilhosa que se tornou minha esposa.

A Pixar fez o primeiro filme animado por computador, Toy Story, e é o estúdio de animação mais bem sucedido do mundo. Em uma inacreditável guinada de eventos, a Apple comprou a NeXT, eu voltei para a empresa e a tecnologia que desenvolvemos nela está no coração do atual renascimento da Apple.

E Lorene e eu temos uma família maravilhosa. Tenho certeza de que nada disso teria acontecido se eu não tivesse sido demitido da Apple.

Foi um remédio horrível, mas eu entendo que o paciente precisava. Às vezes, a vida bate com um tijolo na sua cabeça. Não perca a fé. Estou convencido de que a única coisa que me permitiu seguir adiante foi o meu amor pelo que fazia. Você tem que descobrir o que você ama. Isso é verdadeiro tanto para o seu trabalho quanto para com as pessoas que você ama.

Seu trabalho vai preencher uma parte grande da sua vida, e a única maneira de ficar realmente satisfeito é fazer o que você acredita ser um ótimo trabalho. E a única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que você faz.

Se você ainda não encontrou o que é, continue procurando. Não sossegue. Assim como todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar. E, como em qualquer grande relacionamento, só fica melhor e melhor à medida que os anos passam. Então continue procurando até você achar. Não sossegue.

Minha terceira história é sobre morte.

Quando eu tinha 17 anos, li uma frase que era algo assim: “Se você viver cada dia como se fosse o último, um dia ele realmente será o último.” Aquilo me impressionou, e desde então, nos últimos 33 anos, eu olho para mim mesmo no espelho toda manhã e pergunto: “Se hoje fosse o meu último dia, eu gostaria de fazer o que farei hoje?” E se a resposta é “não” por muitos dias seguidos, sei que preciso mudar alguma coisa.

Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo — expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar — caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Não há razão para não seguir o seu coração.

Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração.

Há um ano, eu fui diagnosticado com câncer. Era 7h30 da manhã e eu tinha uma imagem que mostrava claramente um tumor no pâncreas. Eu nem sabia o que era um pâncreas.

Os médicos me disseram que aquilo era certamente um tipo de câncer incurável, e que eu não deveria esperar viver mais de três a seis semanas. Meu médico me aconselhou a ir para casa e arrumar minhas coisas — que é o código dos médicos para “preparar para morrer”. Significa tentar dizer às suas crianças em alguns meses tudo aquilo que você pensou ter os próximos 10 anos para dizer. Significa dizer seu adeus.

Eu vivi com aquele diagnóstico o dia inteiro. Depois, à tarde, eu fiz uma biópsia, em que eles enfiaram um endoscópio pela minha garganta abaixo, através do meu estômago e pelos intestinos. Colocaram uma agulha no meu pâncreas e tiraram algumas células do tumor. Eu estava sedado, mas minha mulher, que estava lá, contou que quando os médicos viram as células em um microscópio, começaram a chorar. Era uma forma muito rara de câncer pancreático que podia ser curada com cirurgia. Eu operei e estou bem.

Isso foi o mais perto que eu estive de encarar a morte e eu espero que seja o mais perto que vou ficar pelas próximas décadas. Tendo passado por isso, posso agora dizer a vocês, com um pouco mais de certeza do que quando a morte era um conceito apenas abstrato: ninguém quer morrer. Até mesmo as pessoas que querem ir para o céu não querem morrer para chegar lá.

Ainda assim, a morte é o destino que todos nós compartilhamos. Ninguém nunca conseguiu escapar. E assim é como deve ser, porque a morte é muito provavelmente a principal invenção da vida. É o agente de mudança da vida. Ela limpa o velho para abrir caminho para o novo. Nesse momento, o novo é você. Mas algum dia, não muito distante, você gradualmente se tornará um velho e será varrido. Desculpa ser tão dramático, mas isso é a verdade.

O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de um outro alguém.

Não fique preso pelos dogmas, que é viver com os resultados da vida de outras pessoas.

Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior.

E o mais importante: tenha coragem de seguir o seu próprio coração e a sua intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar. Todo o resto é secundário.

Quando eu era pequeno, uma das bíblias da minha geração era o Whole Earth Catalog. Foi criado por um sujeito chamado Stewart Brand em Menlo Park, não muito longe daqui. Ele o trouxe à vida com seu toque poético. Isso foi no final dos anos 60, antes dos computadores e dos programas de paginação. Então tudo era feito com máquinas de escrever, tesouras e câmeras Polaroid.

Era como o Google em forma de livro, 35 anos antes de o Google aparecer. Era idealista e cheio de boas ferramentas e noções. Stewart e sua equipe publicaram várias edições de Whole Earth Catalog e, quando ele já tinha cumprido sua missão, eles lançaram uma edição final. Isso foi em meados de 70 e eu tinha a idade de vocês.

Na contracapa havia uma fotografia de uma estrada de interior ensolarada, daquele tipo onde você poderia se achar pedindo carona se fosse aventureiro. Abaixo, estavam as palavras:

Continue com fome, continue bobo.”

Foi a mensagem de despedida deles. Continue com fome. Continue bobo. E eu sempre desejei isso para mim mesmo. E agora, quando vocês se formam e começam de novo, eu desejo isso para vocês. Continuem com fome. Continuem bobos."


Steve Jobs

Quando a gente aprende a ser livre



Eu vi aquela menina no chão e meu primeiro impulso foi correr ao seu encontro e dar-lhe um abraço e dizer que seja lá o que a tivesse feito chegar àquela situação, iria passar. Mas, por bom senso e tantas outras coisas que o mundo prega, deixei essa responsabilidade a quem de fato devesse, que, não era eu. Talvez ela sequer aceitasse minha ajuda e não valia  a pena correr o risco da rejeição. Isso aconteceu várias vezes. Aquela moça insistia em ficar na rua onde eu passava. Todos os dias a encontrava lá, maltrapilha, com uma cara de choro e olheiras herança de noites mal dormidas. Sentava no meio fio e parecia ser ali seu santuário escolhido pra ver o mundo passar. O altar escolhido pra deixar seu coração desaguar. Um dia não aguentei e fui até ela. Sentei no meio fio ao seu lado, segurei suas mãos. De cabeça baixa ela estava, de cabeça baixa continuou. Lhe dei um abraço assim, sentadas mesmo e lhe sussurrei ao ouvido; vai ficar tudo bem.
Ouvindo aquilo, ela levantou a cabeça pra colocar nos meus aqueles olhos marejados e qual não foi meu espanto ao encontrar naquela face nada mais, nada menos que a minha face.
Nos abraçamos e naquele momento todo amor do mundo que por anos a fio doamos ao mundo, nos inundou. Como era difícil encarar aquela menina linda porém tão mal vestida,tão desacreditada e tão descrente e reconhecer que era eu mesma. A levantei, levei pra casa, dei banho, passei o melhor óleo e perfume, a deitei na cama e lhe abracei de conchinha como ela - eu - tanto gostávamos. Ela pareceu dormir pela primeira vez em anos. Eu, também. Acordei o dia já estava alto e eu, sozinha na cama. A menina irriquieta e triste havia enfim encontrado seu rumo. A moça maltrapilha que queria tanto que o mundo a visse encontrou o que precisava: os olhos e amor de si mesma sobre si e enfim teve paz. Tivemos paz.
Ela, eu, que procurávamos tanto alguém que nos salvássemos de nós, encontramos: nós mesmas.

Tarefa insana é buscar fora o que está dentro.
Impossível amar sem antes, abraçar a si.
Se amar é também se libertar.

Camila Lourenço

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Quando o inverno é mais que uma estação


Eu conto os dias, amor. Conto pra saber quanto falta pra primavera. Eu sonho todos os dias com o dias ensolarados e perfumados pelo cheiro das flores, o sol banhando a minha janela, vindo me beijar todo faceiro. A cidade colorida pelas flores multicores. Eu conto.
Conto os minutos pra não ser mais preciso abraçar aquele urso velho já encardido da cama. Sim, eu conto. Conto os dias pra trocar a minha trilha sonora artificial da natureza pelo cantar dos pássaros. Porque sim, meu bem, até eles se calaram nesse longo inverno que se faz sem você.
Eu conto as bolinhas de neve que caem do céu, faço bonecos, anjos e até me divirto, mas eu conto as horas. Eu me distraio com o tic tac do relógio escorregando pela neve. Eu fecho os olhos e no vento frio que rasga minha pele, eu imagino você, me esperando de braços abertos no final da montanha, com o sol nascendo nesse sorriso e aquecendo minhas mãos já roxas pela intensidade do frio que faz quando seus braços não estão sobre os meus.
Sim, amor. Eu conto os dias, querido, e as vezes, me dói contar, mas veja você, eu já sei até ficar de pé no esqui sem cair e sem ajuda.
Enquanto o avião da felicidade não traz você eu aprendo passar creme no rosto pra que ele não resseque enquanto aprendo sorrir sem seu sorriso. Mas, conto. Conto os dias pra você vir fazer parte da minha estação. Conto da vida pra mim, que veja só você, sobrevive a sua ausência, mas não com o mesmo calor.




Camila Lourenço


Embriaguez


"Você tem gosto de wisky quando me beija"
|Lady Gaga|

É por isso que eu gosto de ficar pendurada nessa sua boca. Você ri e me chama de louca, tarada. Mas é que esse nectar que nossos lábios quando juntos, produz, me embriaga e eu sinto vontade de bebê-lo até trocar as pernas, até me perder nessa rua da nossa história e dela não sair nunca mais.
A rua, você, eu e a embriaguez dos nossos beijos.
"Você tem gosto de wisky quando me beija" e eu estou louca pra ficar bêbada. Não pare.



"Yoü and I - Lady Gaga"

Camila Lourenço
Publicado originalmente dia 17 de agosto de 2011.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

"Até que a morte os separe"



Nove anos após a 2º guerra mundial, numa cidadezinha do interior de Goiás, que nem sequer era registrada como município, uma jovem desembarcou de mudança. Havia perdido a mãe quando criança e tido uma dificuldade enorme em se adaptar ao novo lar que o pai constituíra. Acabara de completar 16 anos e resolveu arriscar uma nova fase na vida, indo viver com a avó no interior do interior de Goiás.
No dia de sua chegada, ainda descendo a mudança, sentiu que alguém a observava de longe. Olhou. Era um jovem  e simpático rapaz. Ela sorriu por dentro e continuou descer suas coisas, que eram poucas, com um sorriso bobo no rosto daqueles de quem tem esperança numa nova vida. Depois de instalada, logo fez amizade na pequenina cidade. Era bonita, risonha e não havia tantos habitantes assim para que fosse difícil qualquer amizade frutificar. Lembrou-se daquele jovem rapaz que a olhara e passou saber sobre. Descobriu que o jovem era namorador, não firmava com ninguém mas que era de boa índole, apesar da mania de colecionar namoradas. Respirou fundo, deixou pra lá. Os rapazes da sua nova terra logo a notaram e começaram os cortejos. Já estava até pensando em ceder a um e engatar num namoro, quando chega em casa um dia e dá de cara com ele, o "rapaz da mudança". Sentiu as pernas bambas. Sorriu, cumprimentou e foi pro interior da casa, já que não podia ficar sozinha na sala com um homem. Encontrou sua tia, alguns anos mais velha, comentando sobre o rapaz que estava na sala, não prestou muita atenção, aliás, sequer conseguia pensar direito. A cabeça estava um turbilhão. Quando todos estavam na sala, voltou, trocou alguma conversa com o jovem e logo depois ele se foi. Poucos dias após a visita, encontrou o jovem na pracinha da cidade e os dois engataram numa conversa. O jovem era simples, tinha em comum com Jesus a profissão (era carpinteiro), tinha vários irmãos, sorria fácil. Lhe contou das suas histórias de infância, sobre como os irmãos haviam milagrosamente não sido selecionados para a guerra. Contou da sua visão do mundo. Em determinado ponto da conversa o assunto descambou sobre namoros e ela comentou com ele sua fama de garanhão. Ele sorriu, disse que talvez não tivesse encontrado a certa ainda, e ela: "Então, que tal tentarmos?" Ele a olhou espantado. Era pleno 1954 e ele não conhecia uma mulher sequer que havia chamado algum homem para namorar. Olhou-a novamente, com aquele cabelo preto voando ao vento, aquele sorriso frouxo no rosto, e aquele olhar fixo encarando o seu. Era linda. Pensou: "Porque não? Ao menos coragem ela tem!" Engataram um namoro que durou um ano.
Ele implicou com o jeito dela andar e ela com o seu pigarro, ele aprendeu ouvir música calma e ela a suportar moda de viola. Ela aprendeu gostar de política e ele começou entender de retalhos. O "colecionador de namoradas" agora tinha olhos só pra uma e em 1955 a pediu em casamento. Dia 01 de junho de 1955 o casal selou o namoro às avessas e começaram uma história que completa esse ano 57 anos.
Do pedido de namoro da moça corajosa surgiram 10 filhos, 23 netos e 17 bisnetos.
A mulher de coragem se chama Maria Divina Lourenço e o melhor homem do mundo (pra mim) se chama Eliel José Lourenço e são meus avós, os dois seres que me ensinaram que amor existe e que dá certo quando aprendemos nos respeitar, e aceitar que ninguém é perfeito.
Porque o senhor e a senhora acham que o casamento de vocês duraram, vó e vô? (eu pra eles)
Minha vó: Porque a gente aprendeu tolerar e respeitar um ao outro.
Meu avô: Porque a gente casou pra VIVERMOS juntos. Na "bondade e na ruindade".


 "O amor não é uma guerra, 
mas é algo pelo qual vale a pena lutar."
Warren Barfield 

"Somos da época que se uma coisa estraga a gente não joga fora. A gente conserta."




Warren Barfield - Love Is Not A Fight

Camila Lourenço
No dia dos avós, não tinha como não republicar a história dos meus heróis.
26  de julho - dia dos avós.

Felicidade é um lanche de bacon



Ou uma salada temperada com limão
Felicidade é ter sua própria janela acesa num prédio de dez andares.
Felicidade é descer do ônibus sozinha, num país desconhecido.
Felicidade é estar só e gostar disso.
Felicidade é deitar na cama e ler um livro transportador,
comer salgadinho de pacote sabor queijo.
Felicidade é fazer isso quando se tem outras mil coisas a fazer.
Felicidade é entrar numa livraria e ter o dia todo para escolher um livro.
Apenas um.
Felicidade é abrir a boca e soltar um suspiro de supresa a cada página desse um livro.
Felicidade mesmo é escrever um bom texto e ouvir dizer que gostam.
É gostoso gostar de alguma coisa e ser gostado.
Felicidade é isso também.
Felicidade é encontrar a melhor amiga e falar mal do mundo.
Rir por isso.
E ainda desejar o bem para quem quer seja.
Felicidade é dormir com a cachorra do lado,
sentindo seu pulmãozinho minúsculo se contrair,
o sangue quente passando por suas perninhas.
Felicidade é sentir a vida assim tão de perto.
Felicidade é ouvir Oh Darling e cantar em alto bom tom, afinado ou não.
Cantar para a vida
Oh darling, please believe me, I'll never do you no harm!
Felicidade é querer fugir e ter para onde ir.
Felicidade é querer fugir e não ter onde se esconder,
mas ter coragem para ir mesmo assim.
Felicidade é quando o dia de chuva é o dia da preguiça.
Felicidade é dormir tarde contando histórias de terror.
Felicidade é dormir tarde contando qualquer história boba.
Felicidade é o segundo que antecede o primeiro beijo.
Felicidade é ter alguém que cuide de você,
segure seu cabelo quando você estiver colocando a bíle pra fora.
Felicidade é ter alguém para te fazer um chá em noites que a tristeza é tão forte que dói.
Felicidade é poder falar para você mesmo: está tudo bem.
E acreditar nisso.
Felicidade é fazer alguma coisa pela primeira vez.
E acertar.
Ou não.
Mas gostar de ter feito.
E querer fazer de novo.
E de novo.
Felicidade é o reflexo do sol no mar.
E o silêncio.
Felicidade é a praia de manhãzinha e aquele clima de que tudo pode ser.
Felicidade é a chuva te fazendo dormir e o céu azul te fazendo levantar.
Felicidade é fazer o que se quer.
E estar bem com isso.
Felicidade é passar base,
passar pó,
passar rímel,
blush e batom,
vestir a saia, calçar o salto
e arrancar tudo na mínima vontade de ficar em casa.
Felicidade é deitar na cama e respirar fundo até sentir o coração descolando da costela.
Felicidade mesmo é aceitar o que você gosta,
e não o que deveria gostar,
seja um livro bobo,
uma música ruim,
bingo no sábado à noite.
Simplória,
você me diz, menina simplória isso que você é.
Simplória na dor,
simplória na cor.
Mas felicidade não é ser.
Felicidade é estar.

Autora: Minha xará, Camila Lourenço
(Alguns textos simplesmente não dão para não serem compartilhados.)

O ciclo vicioso do ódio

Basta uma rápida conversa em qualquer turma, quer seja online ou na vida real para notarmos o ódio implícito e fragmentado nos diálogos. O brasileiro, o mundo em si, tem sede de justiça e a manifesta de várias formas. Alguns vão para a rua lutar por seus ideais, outros descontam suas frustrações por ver que a vida não é bem como imaginava em doses de ironia, sacarmos e violência verbal aqui e acolá, e outros partem para o linchamento, quer seja literalmente ou na simples defesa da aplicação do pensamento  “olho por olho, dente por dente.”

Continue lendo aqui; http://www.aredacao.com.br/coluna.php?colunista=56

terça-feira, 24 de julho de 2012

Dando as caras

Olá, meus queridos
Apesar da ausência, não, eu não me esqueci de vocês, tampouco desisti de continuar com o blog. é exatamente o oposto.
Como já contei há alguns dias, o blog vai mudar e estou fazendo os últimos ajustes para apresentá-lo a vocês.
Não conseguirei colocá-lo no ar antes de fim de julho, conforme previsão, mas ele está quase pronto.
Todo o conteúdo daqui será conservado e continuarei a postar textos, a diferença é que agora o blog terá muuuuita coisa a mais pra vocês.
Espero francamente que gostem.

Um beijo,
Camila Lourenço

quarta-feira, 11 de julho de 2012

terça-feira, 10 de julho de 2012

União



Há um riso bobo que se pendura no peito sempre que teus olhos desnudam os meus. E como raio de sol no último dia de inverno, derrete o gelo e abre espaço para as flores sorrirem.
Há uma mão que me resgata da submersão e me traz a tona para respirar. E não é a sua, é a minha. E a cada golfada de ar que rasga meus pulmões eu inspiro melhor o perfume que tua pele canta pra minha. E quando o frio da distância em minha carne toca, um casulo forte a quem carinhosamente apelidei de confiança me nina e deita comigo ao dormir. E quando sua mão enfim consegue alcançar a minha, até a tempestade do mundo lá fora se cala e naqueles instantes há apenas você e eu e seu olhar pintando minha noite de estrelas e fazendo a lua mais linda nascer na retina do meu olhar. E aí pouco importa o mundo, o barulho ou o vento rasgando minhas roupas, guardada em teu beijo eu te encontro, você me encontra e nos damos conta que nem todos os dias são de festa, mas que há sempre motivos para celebrar e que escrever a vida com as mãos unidas é um dos maiores deles.


Serei teu porto quando a chuva forte desabar,
tua dama quando a vida oferecer a música para dançar,
tua amante quando o desejo fizer tua pele queimar
E minha, pra poder ser tua
Pra que meu coração pra sempre saiba como conjugar bem o nosso verbo amar.

Camila Lourenço

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O encontro


Ficou vários minutos parado observando aquela figura.
Observou o corpo, a expressão, o cabelo e até mesmo as rugas. Enxergou ali alguém cansado mas de uma vivacidade tão grande que contagiava. Emanava vida daquele meio sorriso que parecia estar sempre pendurado naqueles olhos. Não observou roupas, deixou-se hipnotizar somente pela alma. E ali, olho no olho sentiu crescer uma admiração crescente e grande por aquele ser humano sem armaduras que conseguia ver através daquela alma, e num ato carregado de amor, coragem e toda sorte de sentimentos bons, deu um passo adiante e ofereceu o que sempre havia cobrado do mundo, pessoas e vida: amor. E fechando os olhos se inclinou  e sentiu na boca o gelo do toque. Retirou os lábios, deu um sorriso. Olhou novamente pro espelho e naquele momento sim, o início da sua vida existiu.




Camila Lourenço

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Desapego

Desapegar da dor é entender que a felicidade tem roupas que desconhecemos e que apesar de não ser exatamente como esperávamos, ela sim, nos encontra.





Camila Lourenço

Sobre o ciúme e outras (des)graças

Desapego é como milagre: 
Faça sua parte que acontece.


Creio que as vezes nos esqueçamos de quem somos. As vezes o espelho quebra, a memória falha, os olhos fundem e o amor próprio tira férias.
Aceitamos coisas que não precisamos aceitar, choramos por quem e pelo quê não deveríamos chorar. Nos sujeitamos a sentimentos bobos de pequenez e nos esquecemos que somos o que quisermos ser, e podemos ter o que quisermos ter.
Ciúme e falta de confiança - em si, nos outros -  são coisas super comuns de se sentir e geralmente surgem em épocas nada estáveis da auto-estima. Medo de perder, raiva, descrença por essa ou aquela atitude. Vemos pessoas que antes sequer conhecíamos com o dom eterno de nos fazer felizes e não enxergamos que todo o "poder" que a elas foi dado, partiu de nossas mãos e que esse mesmo poder morre também no exato momento que decidimos que assim o será.
Trazer à memória que não importa onde ou com quem estejamos, estamos porque queremos, faz toda diferença para entendermos que da mesma forma que entramos, podemos sair se assim o quisermos.
Bem diz vários textos e teorias que o que amamos na verdade, é o amor, e que projetamos no objeto amado toda a expectativa que criamos no decorrer da vida. É necessário, no entanto nos lembrarmos que sim, amores vêm e vão. Que amar é uma escolha e não amar, também. Que pessoas são sim substituíveis e que o que faz cada um ser ou não especial e/ou inesquecível é também a forma como deixamos que penetrem em nossa alma e que cabe a nós decidirmos sim, até que ponto queremos e vale a pena ir.
Cabe a nós enxergarmos que o mundo é bem maior que todas essas pequenices e abrirmos os braços e vivê-lo, independente de qualquer coisa ou de quem quer que seja.
Se o mundo acabar hoje, estejamos dançando... independente de quem conosco baila.
E aos que de todos esses males padecem, um alento: uma hora você cansa e abre os braços pra vida.
Limpe o espelho, vista seu melhor sorriso. A vida não pára e a música está tocando: vá dançar.
Nos amemos melhor para amar melhor.

Camila Lourenço

terça-feira, 3 de julho de 2012

Só por hoje


"Nosso mal é tatuar no braço o “Carpe diem” e esquecer de tatuá-lo na alma, no coração.'

Só por hoje eu não vou me prometer nada. Nos prometer nada. Só por hoje eu vou apenas viver.
Só por hoje eu vou viver o agora sem os fantasmas do passado ou os medos do futuro.
Só por hoje.
Só por hoje eu vou absorver sua essência humana com a consciência decente de nossas limitações.
Só por hoje eu vou te amar sem pensar no tempo, sem correr no encalço da perfeição.
Só por hoje darei as mãos à você e sintonizadamente unidos, celebrarei a vida.
Só por hoje "serei o que sou no instante agora onde ontem, hoje e amanhã são a mesma coisa. Sem a idéia ilusória de que o dia, a noite e a madrugada são coisas distintas separadas pelo canto de um galo velho."
Só por hoje eu vou nos fazer e ser feliz até que chegue a noite e embale meus sonhos e amanhã eu recomece todo o "só por hoje" mais uma vez.



 Camila Lourenço

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Sobre o verbo amar


Leva tempo, mas uma hora a gente entende. Entende que o amor pouco ou nada tem a ver com a satisfação primeira, única e exclusivamente nossa. Entende que qualquer relacionamento se torna eterno se sua base tem como estrutura a amizade. Entende e aceita que o amor também é sinônimo de renúncia e compreensão e absorve por fim que não é amor aquilo que não nos permite aceitar as pessoas como elas são.
Leva um tempo mas a gente aprende que amar é mesmo coisa pra fortes. Fortes não porque nunca caem ou se machucam, mas sim porque jamais desistem de tentar.

Camila Lourenço