quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Ereta

Morro todo dia um pouquinho.
Morro quando preciso me vestir com uma roupa adequada para entrar no mundo, e diminuir o volume da risada para parecer mais politizada.
Morro quando o sonho da padaria parece o único ao alcance das mãos. Morro quando não me perdoo pelos erros que não fiz e fiz. Morro quando mudo pra me adaptar ao mundo e acabo não cabendo naquela que me transformei ao mudar.
Morro quando o mundo não cabe, morro quando o mundo desce apertado pela garganta pra caber a mim.
Morro quando deixo de sonhar. Morro quando não consigo sonhar.Morro quando não consigo ter fé. Morro.
Abro os braços e recebo o medo do não realizável, da solidão do peso da própria existência.
Abro os braços e me permito afogar no peso de cada consequência e na pilha de papéis a minha frente que eu preciso fazer sumir pra custear um sonho que está bem ali, mas que sequer sei se vou alcançar.
Morro. Morro e espero terceiro dia. Morro e espero a onda passar. Morro e espero a fase passar. Morro e espero o tempo passar. O tempo.
Eu me deixo morrer várias vezes, pra renascer mais forte.
O tempo é curto e a vida é apertada e após cada morte, só volta e fica o que faz do meu eu, mais eu. E isso basta.

"Ninguém baterá tão forte quanto a vida. 
Porém, não se trata de quão forte pode bater, 
se trata de quão forte pode ser atingido
 e continuar seguindo em frente."




Camila Lourenço