sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Quando me descobri rica


"Já te falei que por falta de amor você não morre."
Jair do Cavaquinho


Era um dia daqueles. Daqueles que a gente acha que não vai suportar, que o peito parece explodir e o mar ganhar novo nome: nossos olhos. Estava eu no meio do vendaval quando eles começaram voar ao meu redor.
Um passou bem pertinho do meu rosto, o outro, deixou um recado no meu espelho, o outro, usou da nossa tecnologia pra me contactar.
Eu sabia da existência de cada um, mas perdia muito tempo olhando pra onde não estavam. No entanto, apesar da minha total apatia diante da grandeza de todos, nada disso foi dado como veredito de condenação naquele momento, naquele dia que deles eu tanto precisei. Um a um eles foram surgindo, sem convite e sem saber que eram o socorro. Nesse dia entendi que anjos também são mágicos e têm o poder de iluminar os tesouros escancarados que possuimos e as vezes esquecemos.
Meus anjos não moram no céu, muito menos são perfeitos e imortais. Meus anjos atendem por família e amigos, que quando o chão treme sob meus pés, me pegam pelos braços e me levam para o céu, pra que eu possa ver, de lá, lá de cima que lindo castelo é esse meu. E lá daquele alto eu vejo e entendo que uma ou outra coisa pode até desabar, que as torres podem cair, que a seca pode destruir, mas que há sempre muito, muito, muuuuuuito mais do que os pequenos tremorezinhos que hora ou outra nos atingem.
Lá do céu, de onde esses anjos me levam, todo resto se torna só resto e a grandiosidade da vida, em toda sua complexidade e simplicidade se faz dádiva, independente da estampa que esteja vestida.

Verdade, Jair. De falta de amor eu não morro mesmo.

Camila Lourenço

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Mantra

Livre mesmo a gente descobre que é quando sente no peito a capacidade 
de continuar de pé, apesar de qualquer "apesar de".

Como o vento,
Como a água,
Como a vida,
Vai passar.
Como a idade,
Como o inverno,
Como o verão,
Vai passar.
O desespero dá lugar pra paz quando entendemos que na vida, além da vida, nada é eterno. Nem a alegria, nem a dor.






Camila Lourenço




segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Tá chegando!!!


Bom dia, galera!
Tá chegando o dia que meu novo site entrará no ar. Tumtumtum! rs
Muita coisa aconteceu na minha vida desde que comecei com esse blog, como já contei aqui algumas vezes. Minha vida mudou em vários sentidos e em algumas áreas importantes as mudanças vieram através do blog (minha vida profissional, por exemplo). Através do blog também me encontrei (em vários sentidos), oscilei e me perdi em tantos outros e tornei a me encontrar. Enfim, muita coisa aconteceu nesses quase 3 anos. Atualmente entrei pra escola de Teatro, estreio em novembro em um musical (e publicarei a intimação aqui pra TODOS vocês comparecerem, rs) e claro, eu quis trazer tudo isso pra esse espaço também e abrir espaço para outras pessoas se encontrarem e exporem suas opiniões. O novo blog terá uma coluna pra quem quiser escrever sobre temas da nossa sociedade no geral. Teremos também o momento talento e muita gente e projeto bacanas serão divulgados nesse espaço (se já quiser fazer parte da primeira remessa de talentos divulgados, envie seu vídeo ou fotos da sua arte para: camilalourencosilva@gmail.com. Claro, haverá um processo de seleção, mas garanto, teremos muitas surpresas boas).
O blog, que começou como um espaço despretensioso e pessoal agora vai ganhar novas funções, novas propostas.
Continuarei com as postagens de textos, mas agora teremos mais coisas, beeeem mais coisas, com alguns diferenciais que alcançarão vocês também.
Agora é contagem regressiva. Logo volto pra apresentar minha nova casa pra vocês, NOSSA nova casa, né? Porque há tempos que esse blog deixou de ser só meu e passou a ser nosso.

Beijos!


Vem aí: DAS RUAS!

Olá, pessoal.
Já pegando o embalo de uma das pegadas do novo site/blog (que tá quase saindo), deixo aqui a dica/convite cultural da semana.


"As ruas de Goiânia, que outrora dividiam sua arquitetura Art Déco com o expressivo verde das toscas mangubas de troncos ocos, nos dias atuais recortam parte de seu cenário com a arte subversiva, composta por uma trinca de cabras que fazem as pessoas entortarem as mentes com suas ações. Ao perambular pelas vias da cidade, você pode se deparar com um finése adesivo de “Cora Coralina Is Dead” e perceber que o sarcasmo daquele escrito vai além, e que a lapada com vara de amora nos bons costumes e na preservação do provincianismo goiano é evidente. O delicioso lambe “Eu Sou O Marginal Botafogo”, escrito com letras de grapixo, faz você pensar que está à margem de várias situações que acontecem na cidade, mas que os verdadeiros marginais são aqueles infames viciados “filhos do césio”, esquecidos, que fazem das pontes da alameda seus nobres abrigos. E o que dizer daqueles raparigos sem classe e das donzelas sebosas que se enraizaram ao longo da Avenida Goiás? Talvez nem saibam, mas são eles uma das inúmeras representatividades que o instigante “Pessoas Soltas” causa em quem se depara com a mensagem. Pra quem enfrenta o caótico trânsito goianiense, quando se depara com uma Bastet imponente numa similar placa de trânsito pregada num ponto de ônibus tosco e mal conservado, questiona desde a imagem provocante da deusa até a real intenção do autor para aquele feito. O Buda, também simbolizando uma placa sinalizadora, pode passar a mensagem de calma, numa rotina de veículos cada vez mais violenta, ou também a clara ideia de que acredita-se naquilo que é visto, seguir as orientações é um mero detalhe. Na correria safada diária, ao se deparar com um jovem torcedor do ilustre Goiânia Esporte Clube, trajado com o uniforme do mesmo, de capacete majestoso e cores fortes, a sensação de nostalgia e admiração é imediata, lágrimas podem escorrer pela face sem cerimônia. Expressões destacadas de velhotes em armários telefônicos localizados em calçadas de esquinas do centro e moiçolas de feições joviais em paredes imundas, cortam o seu deprimente hábito de ir e vir, fazendo das intervenções uma bela democratização da arte.

Os autores dessas belezuras citadas, do it yourself de servente competente, são os diplomatas Oscar Fortunato, Marcelo Peralta e Diogo Rustoff, que compõe o belo time de quermesse da exposição DAS RUAS, que faz parte da programação do Festival Vaca Amarela 2012, o qual chega neste ano em sua 11ª edição. A exposição parte de fora para dentro, ocupando a Fábrica Cultura Coletiva, trazendo a expressão das ruas para as paredes de concreto. E você que já teve algum tipo de contato com essas intervenções, essa é uma ótima oportunidade de conhecer todo o círculo de criação e confecção, que se expande no processo de toda essa cabarezagem, bater um bom lero com os cabras e conhecer mais trabalhos desses artistas que mudaram a minha e a sua forma de pensar nos dias quentes desta linda cidade. DAS RUAS, a ocupação dos desabrigados em prol da construção da cultura subversiva goiana."




Texto: Genor
Mais informações: http://plusgaleria.com.br

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Sobre pequenos anjos



Eu me faria uma galinha pra te ajuntar debaixo das asas.
Uma leoa pra caçar e te dar de comer.
Uma onça pra te proteger.
Uma super-heroina pra te salvar.
Mas, você, sem ter asas como uma ave, ou força como um leão, ou o instinto de uma onça ou super-poder do Super Homem me salva do ceticismo do mundo a cada vez que me sorri e olha para as mínimas coisas como se fossem as mais lindas paisagens do universo.
Com sua boca desdentada que engole as mãos com a mesma vontade e deslumbramento com que absorve cada novidade que a ti chega, me ensinas mais da vida que os anos no banco da universidade. E eu te dedico essas letras agora pra daqui alguns anos possas ler e saber que um dia já o mundo a você pareceu mágico e cada vez que essa magia refletia no seu olhar um pouco do meu mundo se salvava da condenação total de vestir-se sempre de igual.
Quando de braços abertos e indefesos se encaixaste  entre meus seios, sem procurar proteção conseguiste desenhar nos meus olhos as cores de um mundo que pode sim, ser bom, sim.



Para Henri Gabriel,
meu sobrinho,
meu pequeno anjo.


Camila Lourenço

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Pelo direito de ser mulherzinha


É, pois é, pois é. Os tempos mudaram, "vestimos" calças, conquistamos a presidência das empresas e da República. Diminuímos o tamanho do cabelo, da roupa e do medo. Votamos, reivindicamos, sustentamos. Pagamos conta, moramos sozinha, temos filhos, não temos filhos. Muita coisa mudou e hoje nós mulheres trazemos sobre os ombros as conquistas e consequências de nossas conquistas. Hoje temos que ser fortes, duras, sensuais e independentes. E, SOMOS, mas, eu quero deixar aqui um apelo: NOS DEIXEM SER MULHERZINHAS.
Se você não é mulher, não vai entender como é um saco ter que fingir que adora esse negócio de pegar e não se apegar. Não vai entender também que apesar de transarmos porque queremos, rola sim uma vontade e necessidade de ser tratada com cuidado e carinho no dia posterior.
Se você não é mulher, também não vai entender como faz cócegas no coração um elogio inesperado, ou uma ligação de boa noite. Talvez não entenda também que nos importamos sim com algumas coisinhas que fingimos não nos importarmos. Claro que você não vai entender. Nem mesmo nós entendemos.
Durante muito tempo, muitas de nós ficamos presas à obrigatoriedade implícita e inconsciente que precisamos ser fortes, modernas, desapegadas e fomos. E enquanto fomos o nosso melhor lado, o lado humano e sonhador, o lado feminino, morreu um pouquinho asfixiado dia após dia.
Nesse "adapte-se" aqui, "supere-se" acolá, "seja forte" ali fomos nos perdendo. De nós e presa a tanta coisa que o mundo e nós mesmas nos cobramos de ser, acabamos nos esquecendo que a vida pode ser mais leve. Então, pelo direito de ser mulherzinha hoje escrevo.
Entenda: vamos continuar chorando por motivos bestas na TPM (e as vezes fora dela também) e isso não quer dizer que sejamos fracas, apenas que as vezes, sentimos demais. Perceba que somos sim as independentes que vocês acham que somos, mas que um colo e abraço em um dia tenso nunca será por nós visto como um presente ingrato.
Temos desejo. Sangue correndo nas veias e é pra nós um feito quase heroico cada vez que cedemos a eles, mas que, sim, amargamos muitas e muitas sensações inconscientes quando assim o fazemos sem ter no fundo algumas certezas que gostaríamos.
E nós,mulheres,entendamos de uma vez que não é preciso burlarmos crenças e valores que sempre nos acompanharam somente porque a sociedade nos grita "deixe de ser brega. O que que tem ser assim?".
Quando nos aceitamos e aceitamos inclusive o que realmente não têm a ver conosco, tendemos a nos colocarmos no nosso ponto exato no mundo, que por estarmos onde realmente queríamos estar, deixa de nos sufocar.
Então, pelo direito de ser mulherzinha, de se permitir mulherzinha hoje eu grito.

'De tantas mil maneiras que ser mulherzinha pode ser, estou certa que várias dessas irão nos agradar."




Camila Lourenço

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O que é aventura?

A resposta veio rápido quando lhe perguntaram: 
O que você quer?
A sorte de uma vida vestida de vida 
e todo amor que houver nessa vida.

Nada das emoções oscilantes dos filmes, ou o falso céu/inferno das novelas globais.
Com o tempo entendemos que a cena pra brilhar é o dia, que se veste de novo a cada manhã e estende o tapete vermelho pra passarmos quer seja como protagonista, coadjuvante, maltrapilho, fina estampa, bem resolvido, inseguro ou qualquer personagem que queiramos nos vestir. O tapete vermelho do dia recebe com a mesma atenção o quer que queiramos ser.
Que serventia teria todo ouro do mundo, as aventuras dos melhores filmes se a rotina a nós parecer bicho papão?
O rio só é rio porque a água decidiu continuar seu curso. Faz parte da rotina da água do rio fluir e fluir e só. E nessa rotina simples surgem as grandes aventuras, como moldar uma pedra aqui, ser uma queda d'água acolá.
Aventura mesmo é levantar da cama, ler os noticiários, se revoltar, se indignar e ainda assim conseguir notar a beleza da paisagem no caminho pro trabalho. Aventura mesmo é trocar de emprego quando não está satisfeito mesmo já tendo passado dos 40. Mudar pra cidade que sempre quis desde criança. Tirar férias com a família; divorciar depois de reconhecer que o tempo de andarem a mesma estrada acabou e casar de novo por entender que o amor se veste de único em cada pessoa. Aventura é arriscar amar mesmo depois de descobrir que o amor não é algo tão simples como contavam. É chamar aquela garota pra sair de novo mesmo não tendo certeza do sim. É começar um projeto novo. É organizar a vida, dividir o tempo. Aventura mesmo é colocar as dívidas no papel e encarar o fato de que não dá pra transformar sonhos em metas se damos passos maiores que as pernas. Aventura é ir de ônibus para o trabalho e mesmo assim conseguir conservar o bom humor. Aventura é conseguir enxergar o que tem de bom na vida e agradecer por isso. Aventura é cair em si e ver que viver reclamando é uma moda pra lá de porre e idiota. Aventura é parar de se boicotar e fazer a dieta que sabe que precisa. É ver a si como é e ainda assim, se gostar e se perdoar. É tentar, fracassar e tentar de novo, por entender que cada fracasso é apenas o sucesso dando uma dica de como não fazer. Aventura é parar de sobreviver e começar viver.
Aventura é aceitar que a vida é sim roteiro de cinema, mas com muito mais pormenores do que cabem na telona.

Camila Lourenço