segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Dos pensamentos que não te conto

Eu poderia dizer que bastou uma música para que eu me lembrasse de você, mas eu estaria mentindo. Eu lembrei quando traguei o ar, quando o soltei. Quando abri os olhos, quando os fechei. Quando senti a água no meu corpo. Quando o sol queimou minha pele. Quando fui lágrima, quando fui sorriso. Quando fui diersão, quando fui paraiso. Quando fui perdição, quando fui salvação. Quando pensei no bem, quando constatei o mal.
Eu balanço as pernas e lembro de você.
Eu toco um lábio e lembro de você.
Eu sou minha e lembro de você.
Eu sou do mundo e lembro de você.
Quando sou uma nota só, lembro de você.
Quando as batidas do coração são escola de samba eu também lembro de você. Não, quando meu coração bate feito escola de samba, não lembro de você, eu sou você.
Você entra pela porta e me preenche por inteiro. E eu sinto você na roupa que eu visto, na cor da minha lingerie, no vento forte que me machuca, na chuva que me lava.
Eu sinto você quando me sinto viva. Eu penso em você quando lembro da morte.
Eu sei de você quando lembro do meu rumo.
Eu sinto você quando decido sentar e ficar mais um pouquinho.
E o meu caminho já parece tão estranho que de estranho ele fica normal.
Hora me importo, hora esqueço.
Hora te quero, hora nenhum pouco padeço.
Sei do agora, e ele não me basta.
Olho a estrada e não há nada nela. Nem com seu corpo esguio no caminho, nem com você e suas tatuagens fora de cena. E enquanto penso demais e minha boca forma um bico você vem, me beija e diz: "Solta aquela risada escandalosa pra mim", e eu olho pra você e dou um sorriso, nem grande, nem pequeno, nem alto, nem baixo. Só sorriso. Respiro fundo, te beijo e sinto: naquele momento eu tenho o que me basta. Mas sei também: o pouco nunca foi pra mim.
E eu fico assim. Te vendo tão muito, te tendo tão pouco. Tendo tanto e quase nada lhe oferecendo.
E a gente continua na estrada, e eu já nem sei mais se juntos somos ainda pouco.
E você permanece dirigindo sem saber que eu lembrei de você quando ouvi a tal música, quando respirei, quando dormi, quando acordei.
E ai você continua achando que é pouco, eu achando que tudo isso é pouco mas quase me matando para não contar que esse pouco preenche tudo que há mim.



Camila Lourenço

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

E por acreditar eu vi colorido

E hoje vou enxergar o céu mais lindo, mesmo que haja nuvens.
Vou olhar a cor da flor mais linda, mesmo que ela esteja desbotada e carcomida.
Vou sentir de peito aberto as melodias que tocam a alma, mesmo que elas tragam lembranças sofríveis.
Hoje vou ser gente sendo só gente.
Soltar as penas que há no coração e deixar crescer as asas novamente. Quem nasceu pra voar não se tranca em cativeiro, muito menos em cativeiro sem céu.
Hoje vou olhar as prisões que escolhi ficar e permanecer somente naquelas que eu fico porque amo. Por que as vezes até estar preso é ser feliz.
Hoje vou sorrir o meu sorriso mais lindo, porque a noite clara clareou e lembrou:
Quem pisaria em cacos de vidro por escolha própria?
Ou quem enfiaria a cabeça num tronco cheio de abelhas?
Ou passaria a língua na sujeira do asfalto depois da enxurrada do esgoto?
A noite clara clareou e lembrou que a mesa é farta.
Que há tanto de tanta coisa boa que mais que insano é injusto com o mundo e com a gente só notar o que não presta. Só notar o que nos faz não querer lembrar.
As noites são escuras, mas as estrelas são sempre brilhantes, ainda que longínquas.
A tempestade é ferrenha mas o arco-íris é estrondosamente belo em seu silêncio.
Os tombos são doloridos e recheados de arranhões, mas nenhum aprendizado é tão eficaz quanto as cicatrizes que eles provocam.
Então, hoje eu vou olhar com olhar de estrela. Com olhar de cor e vou ver a beleza do não dito, do não visto e relembrar que de tudo só permanece e realmente triunfa aquilo que eu acreditar.

Camila Lourenço

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Vindo do inferno

Ciúme é uma coisa que o diabo inventou pra rir da cara de babaca que a gente fica quando sente.


Camila Lourenço

Minha dose de loucura

Tudo errado e certo. Em excesso e em falta.
Falta ar, sobra ansiedade. Falta juizo, sobra medo.
E meu estômago revira pelo avesso. E esse turbilhão começa ser meu beijo de bom dia e o banho pra dormir. E caminho a passos largos para o precipício. Sem proteção, despida, tremendo e com uma única certeza: eu vou saltar! (Acho que já saltei.)
O depois? Vai saber...
Talvez passe essa agonia de esquecer de não lembrar. Talvez não.
Talvez a vontade morra com a queda, ou talvez o vento a conquiste de uma tal forma que ela decida ficar e aumentar.
Uma soma de possiblidades. Uma diminuição da minha sanidade.
E do resto, eu não sei.
O que sei é que mesmo sendo "mal" você me faz bem. E disso eu tenho mais medo do que do abismo.


Camila Lourenço

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Da cor que eu quiser


Quando arrisquei riscar com meus lápis de colorir, descobri que a vida pode ser da cor que eu quiser.


Camila Lourenço

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

E de viver demais ainda morro

Um dia eu vou morrer pela minha transparência e pela minha mania de ser e estar 100% em tudo que estou e sinto.
Se for dentro de uma chícara pequena que eu tiver que caber, de uma maneira esquisíta nenhum pedacinho meu sobrará pelas bordas. Se for num espaço grandioso ou oceano, cada gota d'água terá a mim, e eu serei uma gota e também o todo.
Sou grande. Pequena. Me atiro. Me prendo. Pulo. Seguro.
Remôo dores antigas pra superar as novas e nessa cara fica escancarado todas as dores e alegrias. Todas conquistas e derrotas. Toda intensidade e apatia.
Cabem todas as sensações aqui.
E eu insisto em ser transparente, sem saber se há forma de ser de outra forma. Talvez num ato insano, nem sequer querendo ser de outra forma.
E eu danço com vultos. E entro em danças que não sei dançar e fico parada no meio da pista olhando os casais rodopiando sem saber pra que lado devo levar o pé.
E pulo em precipícios sabendo ser precipício e sem usar um pára-quedas que me amorteça a queda.
E caio como diz uma amiga minha "com a cara esborrachada no chão", sacudo a poeira e na próxima montanha esqueço totalmente o tombo anterior e pulo de novo.
E nessa de sobe e desce, de cara limpa e vento batendo no rosto eu sinto o céu e o inferno.
E ouço músicas feias pra embalar meus apertos. E descubro gostos. E aprendo de mim. E relembro das coisas que falo sem dizer, e me odeio, e me sinto pesada, e me sinto leve.
E sobrevivo pra tornar morrer várias vezes.
E a minha transparência maldita continua assim, deixando a carne viva à mostra, e colocando barro no meu rosto para que nenhuma lágrima caia sem ser gritada pra quem olhar.
E de mãos dadas com a intensidade ela segue seu curso de flores, chuva, céu, inferno, e um dia acabam me explodindo, porque um corpo só é pequeno demais para caber tanto de tudo.

Camila Lourenço

Quando aprendi contar estrelas e ouvir música feia

E eu sabia que seria assim, que de repente você iria aparecer e encher minha vida com suas bagunças. E você veio e veio com tudo.
Veio com esse gosto estranho e esse humor agridoce, e esse cabelo por pentear e algumas coisas por fazer. E falou daquele mundo que eu não conhecia, e riu da minha cara me chamando de "burra" por não conhecer e eu quis te bater. Então você riu de novo mas dessa vez sorriu com os olhos.
E ai você meio que se instalou aqui. Trouxe toda essa baderna pra minha vida e as suas roupas sujas ficam jogadas no chão e tropeço nelas quando vou me arrumar. Mudou minha rotina e agora meus horários e programações estão todos uma zona. E você me olha com esse olhar de gato pidão e eu não consigo me lembrar onde eu escondi meus "nãos".
Quando você deitou no meu colo e eu enrosquei meus dedos nesse seu cabelo bagunçado com cheiro de gente, não foi arco-iris nem vulcão que vi nascer, foi alguma coisa esquista que era os dois e ao mesmo tempo não era nenhum e tinha cheiro de todas as frutas e todas as flores junto. E quando você me pegou pela cintura e me tascou aquele beijo eu pensei:"fudeu".
Foi bem nessa hora que eu vi que não queria mais toda sua bagunça fora de mim. E então deixei minhas roupas no chão junto com as suas e nós dois fomos contar estrelas e ouvir suas músicas estranhas que agora eu já nem acho tão estranhas assim.

Camila Lourenço

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

E então até o triste se torna belo

Tudo ao redor pode estar escuro, mas quando quero, sempre consigo te encontrar.
Nem sempre te vejo. Nem sempre te sinto. Mas eu sempre te sei. Não há como não te saber.
Se eu respiro fundo você penetra meus pulmões. Se meus olhos regam minha face, é sua mão quente que sinto descendo na pele do meu rosto.
Quando me perco nesse labirinto de várias portas aqui dentro, sempre posso encontrar você na primeira porta que eu abrir, e você só não entra quando eu não quero.
Eu olho pra cima porque gosto de te imaginar grande, mas sei que tens o tamanho exato para caber dentro de mim.
Você é você, mas você sou eu, pois é aqui, dentro desse pedaço de carne que meus milagres acontecem. E então, mesmo não tendo fé, não consigo não te crer.
Você está aqui quando estou sozinha.
Quando danço na multidão.
Quando arqueio o corpo na gargalhada.
Quando abraço os joelhos apertado na depressão do choro.
Quando sou livre.
Quando sinto-me presa.
Você está aqui sempre, mas nem sempre te enxergo. Nem sempre admito.
As vezes uma pedra pra cima acertando bem no meio da sua testa é a vontade para que de alguma forma você olhe pra quem te atingiu. Mas você está olhando, pois é sua mão que atira a pedra.
O reflexo no espelho mostrando os olhos negros mostram-me uma face tua, e a multidão do mundo me mostra todas as outras.
E então, aqueço o que há em mim de gelado e enquanto minha mão enxuga as lágrimas, eu sinto você e sei, jamais estarei só.
Eu olho pra você e você olha por mim e tudo estando bem ou não ou, não importa. Você está aqui.


Camila Lourenço

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Um trilho, o imprevisível e você

É como uma montanha russa. Cheia de curvas inacreditáveis. De altos. De baixos. Pra quem resolve arriscar, a vida é uma estrada recheada de adrenalina.
Hora você está na respiração quieta da subida, hora no pânico carregado de adrenalina da descida.
As vezes o trajeto é totalmente previsível, ainda que cheio de momentos de arrancar suspiros. Hora ele entra em cavernas estranhas e escuras. Outras passa por jardins floridos, recheados de flores amarelas, rosas, azuis e vermelhas. E de repente o carrinho onde você está tromba de forma brusca com o de alguém, e inexplicavelmente os dois se tornam um só e então, sua viagem não é mais solitária, pois o condutor do tal carro está bem ali, sentado ao seu lado. E você ainda meio zonzo nem sabe mais se os trilhos onde está são seus ou do seu novo e talvez estranho acompanhante. Você só sabe que o trilho é um só e o carrinho também.
E então você deixa de ser o condutor solitário e decisor, e o rumo que antes estava nítido na mente agora está misturado com o de alguém que você está conhecendo a medida que as paisagens passam de forma rápida por seus olhos e o vento bate no seu rosto de forma mais intensa. E você muda o rumo sem perceber, muitas vezes sem querer. E quando enfim começa se acostumar com a idéia, o acompanhante simplesmente breca a viagem e desce. E lá vai você reaprender a andar na montanha russa sozinho de novo.
Depois de reviver todas as sensações de medo, terror, adrenalina e apreciação sozinho o seu bendito carrinho se choca de novo com o de alguém e toda a cena se repete. Só que dessa vez você olha bem fundo nos olhos do novato em seu banco e pensa:"Será que esse agora vai até a chegada?" E o carrinho recomeça a andar. E você respira de um jeito que o ar possa ir na alma e se lembra de como foi parar ali. E lembra que cavernas escuras não são tão assustadoras assim, e que força é apenas um apelido para quem chegou até aquele momento. Então, se permite apreciar de novo as sensações da viagem tendo alguém para contar o que acha dos lugares e sentir as sensações com você. E segura a mão de um jeito apertado quando o coração bate mais forte em alguma curva. Aperta como se fosse a primeira e última vez e simplesmente "aproveita o momento". Por que você já sabe como é ter e não ter. E já sabe que sobrevive aos dois.
E o carrinho simplesmente continua nos trilhos. E mesmo que você não saiba ao certo o rumo, sabe que ele está indo exatamente para onde deve ir.



Camila Lourenço

sábado, 19 de fevereiro de 2011

E foi só decidir


E então, ela DECIDIU que iria usar a lei da atração a seu favor a partir daquele exato momento. E de repente, tudo mudou.


Camila Lourenço

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Meu céu-inferno

Quando você ronrona no meu ouvido e se encurva todo atritando o seu corpo no meu, sussurando "menina" entre um ronronar e outro, eu vou no céu e desço ao inferno de uma vez.
É um inferno ser tão céu cada toque nosso... cada conversa estranha nossa.
É um inferno esse céu de estar na sua frente totalmente despida de toda maquiagem e te contar os meus segredos mais ocultos e as minhas vontades mais secretas.
Quando eu fico olhando pra esses olhos cor de mata eu vivo um céu pra logo em seguida viver um inferno.
Quando você me toca com esse jeito louco e que logo depois fica manhoso eu arrepio cada pedacinho escondido em mim aqui dentro. E nem é escondido mais, por que, o que seria escondido de você? Só esses vulcões que você causa quando a gente se encosta e o inferno que eu vivo antes de dormir. Só isso é segredo de você, porque o resto, nada mais é.
Você sente até quando a minha mão está gelada do outro lado da tela e quando o calor vai tomando minha cabeça, e nesse nosso jeito largado de só viver sou mais viva do que nunca.
Você não vê o que eu sou. Você sabe o que eu sou. E ter esses segredos guardados no seu ouvido causa uma sensação tão de liberdade e prisão...
Depois você diz um monte de merda e nem vê quando eu te odeio. Nem vê também quando a minha luzinha amarela de "perigo" começa apitar feito uma louca, e ai, você me dá um sorriso e fala aquele seu "Ahhh" que eu adoro, e eu nem lembro mais do que é mesmo que eu tinha ficado grilada ou preocupada no minuto anterior.
Quando você me chama de menina é exatamente isso que eu sou: uma menina, uma menina levada e sapeca. E esse vulcão que você faz explodir em mim jorra lava de todas as cores...e depois, tudo fica cinza e duro. Mas logo em seguida você vem e faz toda a explosão acontecer de novo, e de repente eu nem lembro mais que vou viver o inferno depois. Porque quando você ronrona no meu ouvido, tudo que eu quero é exatamente isso: ouvir você ronronar e me aninhar nesse corpo mais macio que pêlo de gato, mais gostoso que chocolate e mais perigoso que cocaína.



Camila Lourenço

Uma espada de dois gumes

Tenho um leitor que sempre fala em seus comentários sobre a coragem de se mostrar.
Sempre entendi e hoje vi que nunca entendi.
Se mostrar está além de dizer o que pensa, de vestir a roupa que tem vontade e sair na rua mesmo que todo mundo te olhe achando que você veio de Marte.
A maioria das pessoas que se mostram não tem noção na realidade do que estão fazendo.
"Damos a cara a tapa" todos os dias quando nos mostramos.
Nos mostrar é chamar alguém que não conhecemos para um quarto, tirar a roupa e falar:"ó, aqui e aqui se você me bater, eu morro, aqui eu fico sem andar, aqui eu vou ter dificuldade em voltar acreditar..."
Ser esse alguém que vê onde pode ferir é um teste grande. É poder vencer se quiser, é poder usar todas as estratégias que conhece e até mesmo usar as feridas a seu favor. Fazer isso ou não depende de índole e muitas vezes, de caráter.
É preciso coragem para se mostrar, pra deixar à luz do sol os seus defeitos, os seus medos, os seus sonhos. Mas é preciso de uma dose dupla de coragem para ser covarde e ferir.
É preciso coragem para se mostrar. Mas é preciso ainda mais coragem para ser fraco o suficiente para ver a vida passar e não vivê-la por medo do que vão pensar, fazer e/ou do que vamos sentir.



Camila Lourenço

Quando aprendeu ouvir silêncio

E quando enfim ficou em silêncio conseguiu entender que há muito já lhe esperavam.
Pegou seu all star amarelo e o seu vestido de jardim. Pegou seu biquine, sua bolsa e sua balinha de hortelã. Estava preparada assim,só com a roupa do corpo, a balinha e o silêncio. Parou naquele espelho arredondado enorme que havia na sala e pela primeira vez se viu como realmente era.
Dos seus "demônios" só lhe restara aquele último abraço de adeus e mesmo que eles voltassem no final da noite o sono dessa vez era seu companheiro e já não precisava colocar o braço entre o peito para não sentir o vazio. Ele estava preenchido.
E saiu, de all star amarelo e vestido cor de jardim por que agora ela tinha aprendido a ouvir.


Camila Lourenço

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O meu castigo

Se eu tivesse 7 dedos na mão, 58 seriam podres. É assim, simples assim essa minha irritante sina.
E eu estou farta disso. Estou farta de errar, de escolher sempre a fruta mais podre da cesta. Estou farta desses dedos podres que me fazem sentir mil e uma coisas que odeio. Mas o que posso fazer? Me diga?
Se você falar para eu me reinventar eu vou rir da sua cara. Já cansei de mudar, de mudar de rua, de roupa, de frequentar lugares diferentes, de ouvir novas músicas. Cansei de tentar mudar, de tentar me reinventar.
Se você falar "calma, quando você menos esperar alguma coisa diferente e que valha a pena acontece" eu vou gargalhar. Só consigo me lembrar que estou esperando por algo ou alguém quando eu sinto esse ódio imenso desses dedos podres me tomar.
E, esperar é uma palavra estranha se ligada a mim. Eu que não consigo parar quieta, que falo muito e que pareço ter sempre um vulcão em erupção dentro de mim, pouco provável que você mesmo consiga me visualizar sentada numa cadeira esperando por algo ou alguém.
Eu odeio esses dedos podres. E nem me venha falar que é o que eu tenho e blá, blá,blá.
Cansei de ter dedos podres, mas me diz, o que eu posso fazer?São os únicos que tenho. E estou cansada disso já. Cansada de verdade. Mas eu simplesmente não sei por onde ou como fazer com que seja diferente.
Eu não sei e esse é meu pior castigo, continuar vendo dia após dia eu continuar escolhendo as frutas mais podres, as flores mas venenosas e as plantas mais difíceis. Não saber e não ter outra escolha é com certeza de longe pior do que ter desaprendido amar. Se bem que uma coisa é praticamente igual a outra, e eu odeio as duas.

Camila Lourenço

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Aprendendo a desaprender


Todas as vezes que me protejo, evito um monte de dores, mas muitas alegrias e boas experiências também.
Seria até bom se fosse fácil fazer como é fácil dizer:"Hoje vou sair da casca e vou enfrentar tudo e todos de peito aberto, sem armaduras". Mas não é bem assim que funcionam as coisas. Quem seu queimou uma vez sabe muito bem como é a dor do fogo ardendo na pele.Muitas vezes tem ainda gravado no corpo o herança do que passou e não quer ver outra cicatriz no restante da pele que ainda é "limpa".
Mas, acontece que todo mundo tem suas marcas. Todo mundo tem uma dose de lembrança dos inferninhos que já passou e muitas vezes nos defendemos exatamente daquele que já está bem mais machucado que nós mesmos.
Se proteger é bom. No entanto as vezes é bom esperar o ataque para se defender.
Estar vivo é um conjunto de emoções e experiências. Já perdi muitas por me defender do que talvez fosse inofensivo e talvez continue perdendo outras tantas por não saber mais como tirar essa armadura que parece colada no meu corpo e esse escudo que grudou na minha mão. Mas hoje eu descobri: existem pessoas bem mais machucadas que eu.
Talvez olhar para o restante da barriga além de fixar o olhar somente no meu umbigo seja meu primeiro passo para o aprendizado de desaprender a me defender de tudo.
Talvez...




Camila Lourenço

Eu engulo sapo

Tem dias que a gente acorda com um bolo entalado na garganta. Acorda, respira fundo e ora em pensamento:"Deus, me dê saliva o suficiente para engolir os sapos de hoje." Mas, nossa garganta é estreita, fina e acaba se machucando, mesmo que o sapo desça por ela todo cheio de baba.
É nojento eu sei. Dá vontade de não engolir ou simplesmente fazê-lo sair pelo mesmo caminho que entrou, mas nem sempre podemos escolher o que "engolimos" e/ou "vomitamos".
Estou aprendendo a domar meu medo e raiva. Estou aprendendo a domar meus sentimentos e continuar na brincandeira mesmo depois que ela toma atalhos e caminhos que não me agradam. As vezes é preciso topar o desafio e dançar mais um pouco em cima das brasas.
A escrita não precisa de mim para ser escrita e ter leitores para suas palavras, porém, eu preciso da escrita para viver. Meu corpo é pequeno para tudo que há em mim e eu preciso de alguma forma exteriorizá-los.
Estou com cada pedacinho do meu corpo preenchido por sentimentos e sensações. Até mesmo o coração que julgo sempre vazio está cheio. Cheio de coisas que não sei dizer ou entender. Medo, expectativas, vontades, frustração, ciumes. E os tais sapos que engulo faz tudo ficar misturado. A digestão é lenta e dolorosa e mesmo que dure somente um dia, o dia parece ter bem mais que 24 horas quando ela está acontecendo.
Descobri que esses dias são os dias em que mais aprendo. Quando lido com o que não gosto. Quando sou obrigada a tomar uma posição diante do inesperado, um inesperado nem sempre feliz ou gostoso de ser sentido e recebido.
Quando eu respirar fundo e olhar para esses dias que engoli os cururus, vou ver que o veneno que os protege preparou meu estômago para comidas mais potentes, saudáveis e fortes.
Enquanto isso, se vem um sapo, eu engulo. Engulo. As vezes até choro enquanto ele desce rasgando a minha garganta. Mas eu engulo. Engulo e aprendo.


Camila Lourenço

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Alone


A tinta não pega na parede. O disco não toca mais na vitrola. Os cds estão arranhados, o pen drive pegou vírus.
As palavras bonitas dormiram. O silêncio acordou.
Calar ou gritar?
Esperar ou correr atrás do invisível?
Enxergar e admitir o que não existe ou colar um papel de parede como fundo?
Os ursinhos carinhosos cederam, a criptonita enfraqueceu o Super Man. O Batmam não resistiu. Agora só restou você.
Esse é seu castigo-mor: ficar sozinho, desprovido até de si mesmo.
Se se sair bem, "Ele" deve lhe dar alguma boa recompensa.
Se nos sairmos bem é bem provável que mais coisas ainda percam o encatamento. Mas, e daí? Quem disse que viver seria um conto de fadas?
Essa é a hora da verdade e há alguém te esperando do outro lado do rio: Você.
Lutar e vencer/perder sozinho tem suas vantagens. Uma delas é aprender que em nenhum terreno há pedregulhos demais para que não se possa engatinhar.

Camila Lourenço

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Um plano pra hoje.


Sabe aquele cara danado que vive te tirando o sono, o apetite e a paz nos batimentos cardíacos de sempre? pois é, hoje é dia dele e eu tenho um plano pra mim e pra você que está lendo.
Sim,estou falando com você mesmo que sofre quando ama e se agoniza quando não sente nada. Sim, este texto é pra você.
Hoje é o dia internacional do amor...é, eu sei que chega ser irônico inventarem um dia para o amor se na maioria dos dias muitos sequer se lembram de colocá-lo em prática. Mas,vamos ao plano.
Vá até um espelho agora e olhe bem pra você. Bem no fundo dos olhos e tente ver além... enxergue sua alma através do reflexo no espelho.
Relembre dos seus erros e acertos.
Relembre suas quedas e de todas as suas superações gloriosas, ainda que pequenas.
Relembre de todas as vezes que você teve que caminhar sozinho, e mesmo não querendo ter a solidão por companhia, conseguiu.
Relembre daquelas noites insones em que você abraçava apertado as pernas e se encolhia como um feto. Relembre também como no outro dia você conseguiu dar um sorriso para alguém no seu trabalho, ou a um desconhecido na rua, mesmo você não estando nada bem por dentro.
Relembre das vezes em que você colocou algum plano seu em segundo plano para ajudar alguém que no momento precisava mais de atenção que seus próprios projetos.
Tá relembrando?
Hoje é o dia do amor e nós vamos celebrar, com ou sem alguém do sexo oposto para dizermos "eu te amo".
Você já sentiu o quanto sua pele tem uma textura gostosa de pegar, ou o quanto seus lábios são rosados quando você está feliz?
Você já notou o quanto você é decidido e determinado quando realmente quer alguma coisa?
Não? Então hoje é o dia de notar!
Vamos dançar de mãos dadas agora, como quando éramos crianças e brincávamos de "atirei o pau no gato". Está na hora de sorrir, hoje é o dia do amor e nós vamos celebrar!
Provavelmente o sol não nasça quadrado como muitos de nós as vezes queremos(como eu quis há poucos dias por exemplo).Mas,como muitos de meus leitores comentaram, de que adiantaria ele nascer quadrado se a verdadeira mudança tem que acontecer é na gente?
É a maneira como vemos as coisas que realmente faz a diferença. E hoje eu quero que você veja a vida sob o olhar de uma criança que vê em tudo um motivo para ter fascinação.
Hoje é o dia!
Vou ali me beijar agora, me abraçar e me dizer: "Menina, você é demais...eu te amo!"
Amor próprio é a base para conseguirmos amar alguém com louvor algum dia. Então, nada melhor que começar exercitar isso no dia do amor.
Entre erros e acertos, o que importa é que não há um jeito só de ser "amável". E o bom é saber que mesmo imperfeitos, ainda há muito em nós que merece aquela declaração que faz tudo parecer melhor: " eu te amo"!
Eu tenho um plano pra hoje: Se ame sendo imperfeitamente perfeito exatamente assim, como é.





Camila Lourenço

P.S. : Hoje é comemorado o "dia dos namorados" nos Estados Unidos e em vários paises a Europa.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Diferente

Amanhã o sol poderia nascer quadrado (sem ter que estar em prisão), só pra ter ao menos alguma coisa diferente no dia.


Camila Lourenço

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Quando você vem?

"Eu procuro um amor que ainda não encontrei, diferente de todos que amei." |Frejat|

E ai cara, quando você vai aparecer?
Até quando vai esse pique-esconde sem graça?
Já contei até 1000, achei o esconderijo de vários, alguns acharam que me acharam mas nenhum era "você".
E ai, vai continuar brincando assim até quando?
Estou com tanta coisa para te contar...Tenho tantos mimos pra te dar. Sim, aqueles todos que um dia você vai saber que eu não resistia e comprava quando achava que parecia com você, mesmo não tendo ideia de como você é.
Fiz uma seleção linda de músicas e coloquei em um cd e em um pen drive, pra você ouvir no carro (se é que você tem carro).
Mas, e ai, quando você vai aparecer pra pegar?
Quero te contar que já está perdendo a graça essa brincadeira de gato e rato.
Já está perdendo a graça saber num simples beijo que não é "você" o cara que o recebeu.
Está perdendo a graça esse negócio de não sentir, de parecer que existe uma pedra que pouco se afeta com o que passa no lugar onde deveria existir um coração.
E ai, qual vai ser? Vai demorar?
Quero saber dos seus gostos, ver que lugares você frequenta, ver minha vida se encher de rotinas diferentes das minhas e aprender gostar de um monte, e odiar em definitivo outro tanto.
Quero que você vá comigo no show do Teatro Mágico e ver se você vai sentir um tremor no coração como eu sinto.
Quero ouvir seu rock, ver as pinturas estranhas que você gosta. ou então não, talvez eu olhe pra você e me dê conta de quanta coisa a gente têm em comum.
Não sei...estar com você é uma possibilidade de coisas.
Na sombra da sua ausência cabem todas as minhas agonias.
E ai, quando você vai vir acalmá-las? Quando você vai vir ser imperfeito comigo e juntos sermos pessoas melhores?
Você demora... e mesmo assim, tenho certeza que vou continuar aqui, ainda que a esperança em algum momento desfaleça. Guardo no peito uma tênue convicção que uma hora você aparece, se mostra e me ganha.

Camila Lourenço

Apaixone-se!

"Fiz de mim o que não soube e o que poderia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi ao espelho, já tinha envelhecido." ("Tabacaria". Álvaro de Castro-Fernando Pessoa)


Escrevi hoje sobre "paixão" para o outro blog do qual me tornei colunista a partir desta semana, porém, achei o tema tão pertinente que resolvi adaptá-lo e trazê-lo para o meu/nosso espacinho também, só que em outro contexto.
Divagando no texto tabacaria que cito acima, ouso crer: acordei!
Acordei para a vida e a amplitude que isso implica, e acordei a tempo de concluir: A vida realmente é feita para ser vivida com paixão!
Por isso, hoje eu te convido para algo diferente: Apaixone-se!
Quer seja pelo seu trabalho, pelo seu filho, pelo seu amor... não há regras pelo quê, o que importa é que você faça o que tem que ser feito, sinta o que têm que ser sentido com paixão. Que você viva com paixão.
Que os efeitos colaterais que a paixão deixa,como ver mais cor na vida e achar graça de tudo e mais algumas coisas tome conta dos seus dias.
Se você vestiu o dominó errado, se há alguma máscara ocultando o que você realmente é, está na hora de tirar. Está na hora de se mostrar.
É tempo de viver o que você realmente é.
É tempo de colocar uma pitada de paixão nessa vida e descobrir por que algumas pessoas acham o arco-íris tão mágico.


Camila Lourenço
(Caso queiram ler minha postagem no Blog de MKT para o qual escrevo, cliquem aqui: http://bit.ly/hLf6m4 ) Beijo!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Hora do basta

Essa é a hora de respirar fundo e dizer talvez baixinho pra você mesmo, ou então só sussurar em pensamento: Dane-se!
Talvez todos esperam que você seja isso, ou aquilo outro, mas o que realmente importa é o que você espera de você, o que você quer de você!
Dar um basta nos demôniosinhos interiores que sempre acham que podem ditar o que você deve ou não fazer e dizer não é necessário, é vital! Pegue-os agora, estapeio-os, coloque-os dentro de uma sacola, caminhe a passos firmes em direção a rua e coloque-os com gosto (e até violência se quiser) naquele lixo fedorento lá de fora.
Ser adulto não é uma questão de escolha. Você não tem a fórmula mágica para voltar a ser criança, então, conforme-se e se adapte.
Respire fundo mais uma vez e ligue o dane-se pra quem não te entendeu. Ligue o "tô nem ai' pra quem distorceu o que você sentiu, o que você disse.
Gente seca, ocada, maliciosa, sempre haverá no mundo. E ai, você vai deixar de ser você por isso? Vai deixar de dar aquele bom dia sorridente só por que alguns tem birra de gente feliz? Vai deixar de fazer um mimo só porque algum retardado acha que em tudo há segundas intenções? Vai deixar de testar, tentar sentimentos só porque há muitos que não sabem mais sentir?
Bem, você eu não sei, eu sei de mim, e eu cansei. To indo agora em direção ao lixão, porque tudo que me faz mal não cabe só naquela cestinha de lixo ali de fora.
Vou ali me esvaziar, depois eu volto. Meu jardim está cheio de flores, só que se eu não tirar essas ervas daninhas, é fato, elas irão morrer.
Fui... e dessa vez só vai ficar o que me fizer bem.



Camila Lourenço

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Alguéns

Alguém
Embalou seu sono quando você era apenas um bebê (alguém do seu sangue, ou talvez não, mas isso pouco importa).
Sorriu ao te ver dar os primeiros passinhos e te incentivou ir um pouco mais adiante.
Alguém de cabelos brancos babou mais em você do que você jamais sonhou em babar por qualquer garota(o), mesmo que ela fosse a própria reencarnação melhorada da Angelina Jolie e Juliana Paes, ou do Thiago Lacerda e Reinaldo Gianecchini.
Alguém.
Teve orgulho de te ouvir falar 'titia'(o).
Chorou quando te ouviu balbuciar "papai, mamãe"
Quis que você fosse sempre o primeiro a brincar com aquele brinquedo que ganhou de natal.
Te suportou quando nem mesmo você se suportava, limpou suas cacas, trocou sua fralda, te deu dinheiro para ir naquela festa que você mal esperava a hora de acontecer.
Alguém.
Leu pra você a primeira frase do livro que você sonhava com as gravuras.
Te ensinou que era feio e pecado pegar o que não era seu, brincar com a comida, brigar com o maninho ou o coleguinha da escola, pegar todos os brinquedos, dormir sem falar com o Papai do céu.
Ficou um(ou vários) dias sem roupa nova para que você conseguisse enfim aquele tênis que tanto falava.
Vibrou com cada conquista sua, mesmo que fosse tão somente conseguir fazer xixi no vaso sem precisar de ajuda.
Vai estar sempre de braços abertos para te receber, você sendo ou não o homem ou a mulher mais bem sucedida do mundo, você sendo ou não perfeitinho e tendo feito tudo certo, você sendo casado ou eterno(a) solteirão.
No espaço deste alguém, nunca houve tanta coisa que não pudesse ser deixada de lado se o caso em questão fosse arrumar um espacinho pra você.
Esse alguém na realidade são "alguéns". Esses alguéns, chamam-se família.
Pra onde você olha quando tudo vai mal.
Pra onde você corre quando o mundo parece ruir.
Onde, o lugar jamais será pequeno demais para não caber você!





Camila Lourenço

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Quero férias de mim

Todas as vezes que vou ao dentista, desmaio. Tenho tanto medo da anestesia que depois de recebê-la minha adrenalina se mistura perigosamente com a composição do remédio e ficar consciente deixa de ser um privilégio meu.
Descobri que sou assim com relação aos sentimentos também. Sinto tanto medo de me envolver que o que acaba me fazendo mal é muito mais o meu medo do que os sentimentos em si.
A novela tem sempre o mesmo roteiro. Noites e noites sem dormir, pensamentos insistentes e auto-instrutivos e uma sucessão de irritantes impropérios.
É freio na hora de falar, é freio na hora de sentir, é freio no pressentir. É tanto "freio" que acabo quase nem conseguindo andar.
Me contenho tanto que acabo não fazendo nada de acordo com o que eu realmente queria e, fatalmente, gostando menos de mim e tornando a guerra interior mais violenta e articulada ainda.
Juro que em momentos assim eu queria tirar férias de mim. Juro que é por momentos assim que eu me policio tanto para não sentir.
Dá tanto trabalho sentir que ser oca começa parecer uma sensação deliciosamente cômoda e atrativa. É tão dolorida ser intensa que consigo então entender porque várias vezes quis ser apática.
Estou exausta e exaurida. Quando olho no espelho vejo somente o farrapo do que sobra do ser que combate todos os dias em uma guerra que está longe de acabar. Uma guerra da qual ninguém pode me salvar, porque ela é travada bem aqui, dentro mim.

Camila Lourenço

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Fácil e difícil


É fácil não dizer que estou com saudades.
Difícil é não sentir o chão ficar instável quando você passa por mim.
É fácil não contar todas as estratégias que traço para não pensar mais em você.
Difícil é não senti-las ruir quando não consigo te ignorar.
Fácil é escrever que se deve viver no presente e só.
Difícil é viver o presente sem viajar no passado nem ansiar pelo que está no futuro. (Difícil não, as vezes é um saco mesmo!)
Fácil é dizer-se forte.
Difícil é não sentir-se fraco as vezes.
Fácil é fazer-se indiferente.
Difícil é realmente estar.
Da casca pra fora é fácil muita coisa, queria que você visse é como é difícil muita coisa aqui dentro. Sentir sua falta é uma delas.



Camila Lourenço

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Hoje eu preciso de você

Eu te preciso hoje com uma urgência tão grande que chega me dá medo. E te preciso não por que te amo, ou coisa parecida. Eu preciso porque você faz com que eu me sinta viva de novo. Eu te preciso nem sei dizer ao certo por que, só sei que hoje, eu preciso de você.
Preciso de você para encostar essa barba por fazer no meu pescoço, pra segurar meu cabelo pela nuca e me tirar o fôlego. Eu te preciso para sentir meu coração batendo com o seu quando os nossos corpos se unirem num abraço profundo.
Eu te preciso por que eu te preciso. Ponto. Não me pergunte como ou por quê.
Te preciso sem promessas de um amanhã, sem pensar nas dúvidas do talvez. Eu preciso só e agora. Sem dizer nada, sem explicar nada. Só te preciso.
E não se trata de sentimento (ou talvez trate,não sei). Ouvi seus passos na varanda e não te chamei para entrar, ao contrário, sai ao seu encontro.
Vamos dar uma volta, com pressa, sem pressa, tanto faz, por que hoje eu preciso de você de qualquer jeito.
Preciso de você me devorando com esses olhos densos cor de mata.
Preciso rir das suas reações exageradas e exatamente no tamanho do meu prazer.
Hoje eu preciso de você. Só preciso.
Te preciso me abraçando forte e fazendo minha respiração simplesmente parar, e o tempo também.
Não, não tô apaixonada, claro que não. Mas é que hoje eu preciso de você.
Com pressa, sem pressa... de qualquer jeito, tanto faz, só sei que preciso.
Vem matar minha vontade, só hoje. Amanhã a gente vê o que faz, mas é que hoje eu preciso, preciso muito de você.


Camila Lourenço

Dança dos ocos

Já nem sei especificar mais qual é a falta que incomoda. Já tem tanto tempo que está sobrando falta aqui que descobrir quais são elas talvez seja o novo desafio.
E não é porque esteja sobrando falta que significa que o primeiro que chegar e me der um beijo sincero na testa e segurar minhas mãos vá ganhar meu coração.
Essa coisa de sentir é meio estranha. Oxalá ela tivesse um cabresto para ir pelo caminho que a gente acha que deveria.
Sobra falta no café da manhã, no café da tarde mas não sobra quando alguém decide matá-la.
Se "sentir" não fosse tão vital assim, talvez até desse para aninhar no colo de quem de bom grado abre os braços. Mas coração é meio insano, fica no peito mas controla todo o corpo.
Quanto mais os dias passam mais aquela esperança das borboletas dançando no estômago quando "O"s lábios me tocarem diminui.
Mas assim como eu tanta gente que tem de coração vazio também...
Vou dançar então a música dos ocos e comemorar que nessa "festa" de não sentir nada (sentir tudo pela pessoa errada) eu não sou a única a dançar sozinha.


Camila Lourenço

Dessa vez

Não, dessa vez eu não quero nenhum som. Esvaziei agora minha playlist.
Não quero também andar mais pelas mesmas ruas.
Estou esvaziando agora meu guarda-roupas e dessa vez, as peças não voltam pra lá.
Não vou assoprar a poeira dos movéis velhos e nem mandar consertar aquelas roupas que eu adorava e já não me dão mais.
Dessa vez eu quero tudo vazio. Tudo silêncio.
Cansei de percorrer a mesma estrada que leva a lugar algum.
Cansei de dançar as mesmas músicas e sentir as mesmas sensações.
Vou me esvaziar para poder me encher.
Vou me esvaziar para voltar ser eu.
Pisar com os pés descalços no chão frio. Sentir o vento bater no corpo desnudo.
Dessa vez, eu vou sem armaduras, sem auto-negação. Dessa vez não vou tentar me proteger.
Tem um arco-íris de sensações nascendo dentro de mim, e dessa vez, eu quero sentir. Sem medo, sem reações pré-estabelecidas, sem roupas previamente escolhidas.
Dessa vez eu vou só e sem nada. Dessa vez vai ser só eu e você, vida.

Camila Lourenço

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Que seja seu salto mais lindo!

Pode dar seu voo mais lindo, quero te aplaudir.
As nuvens da fumaça do incêndio que você causou já não mais me impedem de ver.
Sai tateando no escuro, tapando a boca com uma mão e com a outra tentando me firmar em algo que me desse algum rumo de onde estava a porta.
Demorei encontrar a saída...eu estava entretida nos fundos da casa, tinha me animado em conhecer cada pedacinho, e como a empolgação crescia a cada momento, nem notei quando começou o incêndio, só me dei conta quando tudo ao redor já estava destruido e escuro. Ficou difícil respirar, aquela fumaça ardida tornava cada suspiro um tormento. Achei que iria morrer. Apareceram pessoas para me socorrer, mas tiveram que ficar do lado de fora (não havia como entrar) e tive que descobrir a saída sozinha, confiando na lembrança de quando ali entrei e tudo era cor e confiando na minha audição que ouvia as vozes em meio aos ruídos de tudo que era nosso, da nossa história caindo.
Pareceu uma eternidade, e talvez tenha sido, já que esse lance de tempo é relativo. Mas, por fim consegui sair da casa, em ruinas.
Quando sai, vi que todo "meu castelo" estava destruido, reduzido a chamas, cinzas e fumaça. Respirei fundo, e naquele momento, foi meu recomeço.
Sangrei, sofri, prostrei. Alguns me levantaram, (meio que a força). Juro, ao ver tudo no chão, quis morrer junto com o que havia sido construído com tanta dedicação e vontade, mas, sobrevivi.
Aprendi, colocando tijolo por tijolo que eu poderia construir sozinha,e fiz assim, a minha nova casinha. A chave fica sempre bem guardada, alguns entram, mas até agora, somente os amigos ganharam teto permanente. É certo que já ouvi passos na varanda, mas a nenhum consegui deixar entrar de fato.
Refiz a casa, mudei o cabelo, a roupa, a música. Mudei o rumo. A fé oscilou, o ceticismo fez e faz companhia as vezes. Mas tudo bem, eu sobrevivi.
Com o que encontrei de nós nas cinzas, fiz um santuário que era pra ser seu, nosso... mas, com o tempo se tornou o santuário da minha vida, onde recebi os melhores presentes dos últimos anos.
Tudo bem, não há mais lágrima, nem dor, nem raiva. Perdoei a mim, perdoei a você, perdoei a nós.
Hoje quero celebrar seu salto e quero que você voe para o verão mais lindo que sua vida já teve. Leve com você a leveza das nossas risadas, a sensibilidade das nossas conversas, a sinceridade dos nossos sentimentos.Te dou o melhor que tivemos, quero que você seja feliz. Afinal, esse sempre foi o plano: ser feliz!
Eu aprendi andar sozinha e você agora vai voar.
Voe alto,voe muito e encontre o horizonte mais lindo que o céu pode dar.
Já ouço passos na calçada também... talvez dessa vez eu abra a porta... talvez não...não sei. Mas tudo bem, agora eu sei que se o meu castelo ruir de novo, eu tenho forças o suficiente para o reerguer.
Voe, voe alto, voe muito e seja imensamente...feliz!

Camila Lourenço