Lá vai ele em sua cadeira de rodas. Tem as mãos calejadas e um sorriso estranhamente constante nos olhos. Não vive resmungando mas também não aceita tudo calado. Comprou com custo seu carro adaptado, mas ainda sofre com os engraçadinhos que hora ou outra invadem sua vaga de estacionamento. Invariavelmente precisa pensar em ideias mirabolantes para entrar nos lugares, mas dá seu jeito. Vai à praia quando pode, tem uma filha linda e uma fé na vida de dar inveja. Abraça a vida todos os dias, chora, sente, é humano. Desse cara eu não tenho pena. Não o acho incapaz só por não poder andar. Tenho pena é das pessoas que o olham com olhar de piedade e não vêem que digno de pena são elas mesmas, que se limitam e não se permitem. Dessas sim, eu tenho pena.
Tenho pena é daquele que segura o riso pra ninguém conhecer o som da sua risada. De quem não diz eu te amo pra não ficar à mercê da dúvida cruel que é pensar se é ou não amado. Desses sim eu tenho pena.
Tenho pena de quem não sonha ou de quem sonha pequeno por acreditar que sonhar grande é demais para seu tamanho. Desses sim eu tenho pena. Bobos, não sabem que nossas pernas pequeninas podem dar saltos do tamanho do mundo.
Tenho pena de gente preconceituosa e que por assim o serem, com conceitos previamente formados sobre coisas e pessoas nunca saberão como aquele cara de cabelo azul sabe sobre filosofia, ou como aquela garota toda tímida sabe sobre as constelações. Desses sim eu tenho pena.
Tenho pena de gente que não vive, que passa a vida vegetando saboreando somente o que a vida comodamente lhe trouxe à mão. Desses sim eu tenho pena.
Agora daquele cara, que perdeu as duas pernas num acidente de carro onde um idiota embriagado a 200km/h lhe roubou o prazer de caminhar, desse eu não tenho pena não. Não sei se foi antes ou depois do acidente, mas eu sei que aquele lá sabe viver.
Eu tenho pena é dos deficientes que habitam muitas casas do mundo. Que falam, andam, são normais, mas não aceitam as diferenças. Desses eu tenho pena. Pobres deficientes de alma, que não se permitem e que provavelmente passarão pela vida sem saber de fato o que é viver.
Camila Lourenço
Já dizia Oscar Wilde: Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.
ResponderExcluirCamila! Você é INCRÍVEL... Só isso, por hoje!
ResponderExcluirBeijos, querida minha!
Passando para agradecer sua visita e também por compartilhar seus pensamentos que tão bem combinam com meu espaço ARMADILHAS DO TEMPO! VOLTE SEMPRE, ADORO VISITAS! BEIJOS E PARABÉNS
ResponderExcluirDeficientes mesmo são aqueles que aprenderam a se mutilar sozinhos com seus próprios sentimentos e que se acostumaram com isso,achando a coisa mais normal do mundo.
ResponderExcluirConcordo com você,Camila.Post cheio de verdades 'descobertas'.
Beijo e saudade daqui!
Renata Cibelle
Faço minhas as palavras da Érica, incrível esse texto! parabéns mesmo! infelizmente temos milhares desses deficientes no mundo e por isso o mundo também fica um pouco deficiente, já que tantos serem estão se escondendo por aí sem brilhar e ajudar tantas outras pessoas! parabéns mesmo, quanto potencial!
ResponderExcluirVegeta aquele que só consegue idolatrar o próprio umbigo. Aquele que castiga a sua alma com a palavras podres, aquele que espera sentado de pernas cruzadas a tal "felicidade", chegar cantarolando num domingo de sol. Vegeta aquele que se deprime por bens materiais. Vegeta aquele que não sustenta a sua palavra, aquele que não crê em simplicidades.
ResponderExcluirNão importa o quão difícil seja carregar a vida envolto de uma cadeira de rodas. O que vale é a satisfação de poder usar os braços, a dignidade de lutar de olhos abertos e braços expostos querendo tocar as mãos de quem pode sorrir.
Adorei seu blog. Parabéns
Grande Camila, mandou bem! \o/
ResponderExcluirAdorei seu texto ...Parabéns...E que todos saibam o quanto vale a pena viver e sonhar.....
ResponderExcluirabraços....
Alessandra,
Ficou demais! Parabéns! :-)
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