sexta-feira, 17 de junho de 2011

O imperfeito


Quando eu o olhava, sentia o céu brilhar. Acontecia uma explosão de cores felizes em mim que começava no céu da boca e ia descendo pela corrente sanguínea, até tomar meu corpo todo. Era uma felicidade extrema, exorbitante, gritante. E depois, a mesma onda que havia me feito pisar nas nuvens, me fazia pisar na brasa, no fogo ardente, em espinho, e em sei lá o que, em toda e qualquer coisa que doesse.
Ele era perfeitamente imperfeito. Sem nada no lugar, tão desequilibrado quanto eu. Um apaixonado pela vida, meio romântico, meio cínico, meio feliz, meio mal humorado. E eu era a romântica meio sem assumir, a meio louca pendendo pro totalmente, a meio qualquer coisa e tudo ao mesmo tempo.
Ele era doentiamente escorregadio. Meu Deus, como eu odiava segurá-lo e logo depois ele ficar lá, dançando aquela dança meio macarena na minha frente, meio botando a língua pra fora, num desaforado: "Tô aqui fora de novo, lá,lá".
Mas, ele era também uma almofada fofa de pelúcia. Um sonho bom de noite chuvosa. Uma tarde bonita em alguma praia de Floripa, a euforia do FICA, a sensualidade dos meus sonhos inacabados, a temperatura quente dos meus desejos. Ele era um misto de tudo. E quando eu começava cair de amores, suspirando, lá vinha ele com sua mania de fazer meu coração bater no estômago, dando passos descompassados dos meus. E quando eu estava prestes a cansar, ele se virava, sorria, pegava no meu rosto, e era fatal, eu já não me lembraria de mais nada das suas rebeldias.
Ele era o sonho mais real que eu já havia tido. E o meu chão mais áspero também. Perfeito, porque era exatamente assim, imperfeito. Muito imperfeito.
E acho que foi isso que me levou tatuá-lo no braço, no peito, na virilha, na boca, e no coração.
Ele era a encarnação das minhas mais doces e malucas ilusões. Era eu num corpo estranho.
Graças a ele hoje eu sei que a felicidade não está nas coisas mais concisas, nem nas mais perfeitas, muito menos nas realidades mais palpáveis. Hoje eu sei que a felicidade mora aqui dentro, no peito, e as vezes é exatamente a imperfeição de algum momento ou pessoa que a faz acordar.

Camila Lourenço

3 comentários:

  1. Que texto revelador... Conheci, conheço, na verdade, um alguém assim, que é tão eu em outro corpo, que quando estávamos juntos, não conseguimos nos suportar... Mas na ausência nos procuramos. Na ausência estamos lá, juntos,esperando a presença do outro. Talvez porque eu sinta falta de mim quando estava com ele e ele sinta falta de dele quando estava comigo. Porque nos completávamos, mas não nos encaixávamos. Bem assim... Mas a vida deu um jeito de nos encaixar e, hoje, somos um, através de um outro alguém, mesmo trilhando caminhos opostos.

    A vida surpreende, sempre!

    Amei.

    Beijos, querida!

    ResponderExcluir
  2. "Era eu num corpo estranho."
    Ai, Camila...
    estou achando as respostas que preciso aqui =)
    Lembrou-me o meu último post.

    Renata Cibelle

    ResponderExcluir
  3. Cáh, não faz isso comigo, pára de me ler um pouquinho... Como pode isso menina, vc acaba de falar tudo que alguém foi pra mim, mas tudo msm... e da forma que não ando com inspiração pra fazer, pq talvez se eu o arriscar a fazer vai doer fundo na alma e vou morrer de tanto chorar.. Pq não aceitei ainda como algo tão perfeito assim pra minha alma, pode ser também a imperfeição pro meu coração. Lindo texto e obrigada mais uma vez por dar voz aos meus sentimentos enquanto não estou conseguindo! ;)
    Bjs! =*

    ResponderExcluir

Espaço pra seu 'pitaco'!
Bjokaa!